A prisão na Alemanha do ex-presidente independentista catalão Carles Puigdemont, acusado de rebelião pela Justiça espanhola e alvo de uma ordem de prisão europeia, levou neste domingo (25) milhares de militantes separatistas às ruas de Barcelona.
Centenas de pessoas convocadas por um grupo radical, o Comitês de Defesa da República (CDR), tentaram se aproximar da delegação do governo espanhol, mas a polícia catalã impediu a passagem. Alguns manifestantes lançaram lixeiras contra os agentes, que responderam com agressões a cassetete e até disparos para o ar. Quando conseguiram dispersar o protesto, os distúrbios se expandiram por outras ruas, nas quais se formaram barricadas com lixeiras queimadas.
Os distúrbios deixaram 90 pessoas levemente feridas, 22 delas policiais, de acordo com os serviços de emergência da região. Enquanto isso, 55 mil pessoas - segundo a polícia municipal - convocadas pela organização separatista Assembleia Nacional Catalã desfilaram pacificamente pelo Passeig de Gràcia, uma das principais avenidas de Barcelona.
A multidão, que carregava bandeiras separatistas e cartazes onde lia-se "liberdade aos presos políticos", marchou da delegação da Comissão Europeia na cidade até o consulado alemão.
— O que estão fazendo esses dias é totalmente desmedido. Nos tratam como criminosos por querermos a independência. Já não é uma questão de ideologia, mas de respeito aos direitos humanos — disse, chorando, Rosa Vela, uma professora de 60 anos.
Judith Cárpena, de 22 anos e estudante de Arquitetura, advertiu os que se opõem à independência da Catalunha
— Não cantem vitória, não é o fim do separatismo. O independentismo é liderado pelo povo, e não podem prender todos nós. Haverá outros Puigdemont — afirmou.
Crime de 'rebelião'
Puigdemont "foi preso às 11h19min — 6h19min no horário de Brasília — por uma patrulha da polícia de trânsito em Schleswig-Holstein" um estado do norte da Alemanha, indicou o porta-voz da Polícia alemã, explicando que a prisão foi realizada em virtude de uma ordem europeia.
— Me ligou esta manhã para dizer que havia sido detido na Alemanha, perto da fronteira com a Dinamarca — declarou seu advogado belga, Paul Bekaert, à televisão catalã. — Vinha da Finlândia, de onde havia participado de uma conferência com estudantes — acrescentou.
Pouco depois a Procuradoria alemã anunciou que Puigdemont comparecerá na segunda-feira (26) perante o juiz.
Na sexta-feira (23), o juiz espanhol que instrui a causa contra a cúpula separatista catalã, Pablo Llarena, confirmou a acusação de "rebelião" contra 13 responsáveis, entre eles Puigdemont.
Llarena acusou ao todo 25 dirigentes, 12 deles por delitos menores, como o de "desobediência". O magistrado emitiu e reativou ordens de detenção europeias e internacionais contra seis responsáveis separatistas que fugiram ao exterior, entre eles Puigdemont.
O advogado de uma das afetadas pelas ordens europeias, Clara Ponsatí, "está analisando" para que a ex-dirigente catalã se "entregue" às autoridades na Escócia, onde é professora de Economia na Universidade de St. Andrews, anunciou a polícia escocesa neste domingo (.
O crime de rebelião pode ser punido com até 30 anos de prisão na Espanha, e sua aplicação no caso catalão é polêmica, já que pressupõe um "levante violento" que, segundo muitos juristas, jamais ocorreu na Catalunha.
O juiz acusa Puigdemont de ter organizado o referendo de autodeterminação de 1º de outubro apesar de sua proibição e do "grave risco de incidentes violentos". As imagens das duras ações policiais daquele dia deram a volta ao mundo.
O dirigente foi destituído da presidência catalã pelo governo de Madri após a frustrada declaração de independência de 27 de outubro. Depois se exilou voluntariamente na Bélgica, onde mora desde então.
A tentativa de criar uma república separada da Espanha acabou com a perda temporária de autonomia da Catalunha, atualmente controlada de maneira direta pelo governo espanhol.