Aos 16 anos, o estudante Matheus Kunzler Maldaner passou pelo segundo evento trágico em apenas seis meses morando nos Estados Unidos. Em setembro, ele, a irmã e os pais tiveram que fugir de carro em razão da passagem do furacão Irma. Nesta quarta-feira (14), um ataque a tiros que deixou pelo menos 17 mortos na escola que frequenta.
O adolescente natural de Porto Alegre estava na Stoneman Douglas High School no momento em que um ex-aluno entrou e disparou contra estudantes e professores. Felizmente, em uma sala localizada em uma área oposta do colégio, que tem 3 mil alunos.
— Estava no último período, na aula de espanhol, quando o alarme tocou. Até a professora estranhou, porque faltavam 10 minutos para acabar a aula e já tinha tido um "fire drill", um teste de incêndio, de manhã. Mas, ok, todo mundo saiu e se preparou como se fosse um exercício — contou.
No corredor, seguranças dividiram a turma, determinando que metade voltasse para a sala e a outra fosse para o auditório. O gaúcho ficou na segunda turma e seguiu achando que era um teste, até que um homem abriu a porta e ordenou que todos deitassem no chão.
A partir dali, informações começaram a pipocar na internet, e os estudantes ficaram sabendo da possibilidade de haver um atirador na escola. Matheus seguia tranquilo, tanto que fez um vídeo ao vivo no Instagram junto aos amigos.
— Estava achando que era teste ainda. Estávamos brincando. Nunca achei que isso (tiroteio) iria acontecer comigo — afirmou.
Foi ao ouvir o relato de que o professor de Geografia — seu favorito — havia sido baleado que Matheus se deu conta do que estava acontecendo. Depois de ter a mochila revistada, ele foi liberado com os colegas.
A mãe, Kelly, 46 anos, o esperava aflita junto da irmã, Luana, 11 anos, do lado de fora. Ao chegar em casa, o guri olhou para o pai e disse:
— Se fosse ontem ou amanhã, eu poderia estar morto.
Isso porque, naquela escola, os alunos têm metade de todas as disciplinas num dia e metade no outro. Se o tiroteio tivesse ocorrido no dia anterior ou no seguinte ao ataque, Matheus estaria tendo aula de Geografia no último período – e poderia ter sido alvo do atirador.
O pai do adolescente, Jones Maldaner, que se mudou com a família para a Flórida em agosto, pensando em expandir a empresa de tecnologia que tem em Porto Alegre e dar melhores condições de vida aos filhos, se assustou. Horas depois de receber o filho e ver que ele estava bem, disse que estava "aterrorizado".
— Parece que as tragédias estão nos acompanhando — lamentou o empresário, referindo-se ao recente furacão. — Mas hoje foi pior: 17 mortos na escola do meu filho, a três quilômetros de casa e com ele lá dentro. Uma loucura total.
A mãe disse que fazia seu trajeto normal de buscar o filho, às 14h50min, quando viu diversas viaturas passarem por ela. Ao chegar no colégio, deparou com todo o aparato policial. Ligou para Matheus, que não atendia. Até que ele respondeu, via WhatsApp: "Estou bem, mãe".
— Quando vi ele (na porta da escola) chorei desesperadamente e abracei a ponto de não querer largar. A informação que chegava a nós era de que o atirador ainda estava lá dentro. Só me tranquilizei quando toquei nele — relata Kelly.