O presidente americano Donald Trump tenta, nesta sexta-feira (12), descolar-se do escândalo provocado por sua menção a "países de merda", em uma referência a Haiti, El Salvador e a nações africanas, declaração que um funcionário de alto nível da ONU denunciou como "racista".
Pela manhã, Trump recorreu a sua arma favorita, o Twitter, para se defender e negar a declaração. Rapidamente foi desmentido por um senador do Partido Democrata que esteve na reunião e confirmou a versão.
Em uma primeira mensagem, Trump admitiu que foram ditas coisas "duras" em uma reunião na Casa Branca, na quinta-feira (11), para discutir imigração, mas garantiu que "essa não foi a linguagem usada".
Uma hora mais tarde, Trump voltou ao tema no Twitter para assegurar que nunca disse "qualquer coisa depreciativa sobre os haitianos, além de dizer que o Haiti é, obviamente, um país muito pobre e com muitos problemas".
Pouco depois, porém, o senador democrata Rick Durbin, que participou da reunião, disse que Trump de fato se referiu a "países de merda" e que fez isso mais de uma vez.
Trump "tuitou esta manhã negando que usou essas palavras. Não é verdade. Ele disse essas coisas cheias de ódio, e as disse repetidamente (...) Deu essas declarações vis e vulgares, chamando essas nações de países de merda", lamentou Durbin.
Trump estaria se referindo a nações africanas, ao Haiti e a El Salvador.
— Por que todas essas pessoas de países de merda vêm aqui? — teria dito, acrescentando que queria imigrantes de países nórdicos, como a Noruega.
Indignação global
Em poucas horas, o escândalo se tornou internacional, com uma forte onda de indignação em relação às declarações do presidente americano.
Em Genebra, o porta-voz do alto comissário para Direitos Humanos da ONU, Rupert Colville, classificou as palavras de Trump como vergonhosas.
— Se forem confirmados, são comentários escandalosos e vergonhosos por parte do presidente dos Estados Unidos. Sinto muito, mas a única palavra que se pode usar é racista — frisou.
Para Colville, a visão manifestada nas declarações mostram "o pior lado da humanidade, validando e estimulando o racismo e a xenofobia".
Em Porto Príncipe, o governo do Haiti emitiu uma nota enérgica, na qual considerou "inaceitáveis" as declarações "odiosas e abjetas" de Trump, por considerar que refletem "uma visão simplista e racista completamente equivocada".
Em Adis Abeba, a União Africana condenou as declarações "ofensivas e perturbadoras" do presidente americano.
— Na minha opinião, não é apenas ofensivo para as pessoas de origem africana nos Estados Unidos, mas também para os cidadãos africanos — disse à Ebba Kalondo, porta-voz do presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki.
— Isso é ainda mais ofensivo dada a realidade histórica do número de africanos que chegaram aos Estados Unidos como escravos — acrescentou.
"Não é bem-vindo" a Londres
Em Londres, o prefeito Sadiq Khan celebrou a decisão de Trump de cancelar uma visita à cidade, porque "não é bem-vindo" lá.
— Muitos londrinos deixaram claro que Donald Trump não é bem-vindo (...) Parece que, finalmente, entendeu — afirmou o prefeito, embora a suspensão da viagem esteja relacionada a uma polêmica sobre a sede da nova embaixada americana em Londres.
Nos EUA, as reações também não demoraram a aparecer.
Nascido em Chicago e filho de pais porto-riquenhos, o congressista democrata Luis Gutiérrez comentou que "agora se pode dizer com 100% de certeza que o presidente é um racista".
— Tenho vergonha do nosso presidente — acrescentou.
A onda de indignação também imperava entre os republicanos. A legisladora Mia Love, de família haitiana, disse que a declaração de Trump era "divisiva" e defendeu que um pedido de desculpas é imperativo.
Para Tim Scott, o único senador negro entre os republicanos, as declarações de Trump são "decepcionantes".
Em busca de um acordo
Na quinta-feira, Trump recebeu na Casa Branca um grupo de congressistas democratas e republicanos para tentar chegar a um acordo sobre uma lei geral migratória.
O republicano Lindsey Graham e o democrata Durbin tentavam alinhavar o acordo, mas, ao chegarem à Casa Branca, observaram que Trump estava acompanhado de outros legisladores que defendem "linha dura" com os imigrantes.
O acordo tenta chegar a uma saída para a situação dos cerca de 680 mil jovens que ingressaram de forma irregular no país ainda crianças e que regularizaram seu status com o programa Daca — aprovado durante o governo de Barack Obama e cancelado por Trump.