O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, e os dirigentes da antiga guerrilha das Farc ofereceram duas visões diferentes ao se reunirem nesta quinta-feira (4) em Cartagena (norte), para revisar os avanços após o primeiro ano dos acordos de paz.
A paz na Colômbia "atravessa um de seus momentos mais difíceis" após a assinatura do pacto, em novembro de 2016, advertiram os líderes da Força Alternativa Revolucionária do Comum (Farc), partido político que manteve a sigla da insurgência.
Os representantes da antiga guerrilha se queixaram de múltiplos descumprimentos durante a reunião da Comissão de Acompanhamento, Impulso e Verificação à Implementação (CSIVI) do acordo, composta por membros do governo e da Farc.
Santos assumiu um tom mais otimista. "Demos fim a um conflito de mais de meio século, estabelecemos as bases institucionais e normativas e avançamos decisivamente na construção da paz", destacou.
Mesmo tendo salvo milhares de vidas, o acordo, que levou ao desarmamento e transformação em partido do maior grupo rebelde das Américas, não desperta o entusiasmo geral, e no caso dos ex-guerrilheiros cresce o "inconformismo e o desencanto", advertem seus líderes.
"Há uma implementação em marcha, mas não gostaria que ninguém avaliasse a transcendência do acordo de paz com a discussão sobre os graus de implementação", afirmou o ex-presidente do governo espanhol Felipe González, verificador internacional, juntamente com o ex-presidente do Uruguai, José Mujica.
O pacto, além da participação política da Farc, prevê reformas agrárias e políticas, assim como um sistema especial de Justiça para os crimes mais graves.
Entre suas reivindicações, a ex-guerrilha aponta que a Jurisdição Especial de Paz "foi desfigurada nos debates do Parlamento e seu texto atual não é o acordado entre as partes".
Também anunciou que levará consultas à ONU e ao Comitê Internacional da Cruz Vernelha (CICV) como um "direito que as Farc têm de exigir lealdade ao [que foi] assinado".
Rodrigo Londoño (Timochenko), chefe e candidato presidencial da Farc, não esteve presente, pois está em Cuba, aonde viaja para tratar da saúde, desde que sofreu, em julho, um AVC.
Espera-se que González e Mujica também se reúnam com o Exército de Libertação Nacional (ELN), a última guerrilha reconhecida pelo governo e com a qual busca um acordo similar ao acertado com as Farc.
As partes pactuaram um cessar-fogo que expira em 9 de janeiro, mesma data em que iniciam um novo ciclo de diálogos em Quito.
Um membro da delegação do ELN disse à AFP que a guerrilha tem a disposição de se reunir com os ex-presidentes, mas ainda não há uma data definida.
* AFP