O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reconhecerá nesta quarta-feira (6) Jerusalém como a capital de Israel. A medida ignora décadas de uma diplomacia cautelosa de Washington sobre o tema sensível para o Oriente Médio. Trump anunciará sua decisão às 18h (16h de Brasília).
O presidente americano também determinará que se prepare a transferência da embaixada dos Estados Unidos de Tel-Aviv para Jerusalém, mas este movimento poderá exigir alguns anos. Durante uma série de telefonemas diplomáticos, Trump informou ao líder palestino, Mahmud Abbas, e ao rei da Jordânia, Abdullah II, que o projeto polêmico avançava, embora não tivesse uma data para concluí-lo.
O estatuto de Jerusalém, ou seja, sua condição política, é um tema-chave no conflito israelense-palestino, e ambas as partes reivindicam a cidade como sua capital. A notícia sobre a intenção de Trump gerou reações de repúdio na comunidade árabe. A Liga Árabe pediu que Washington reconsidere sua decisão, enquanto o rei Salman, da Arábia Saudita, aliado dos Estados Unidos na região, advertiu que a mudança poderia desatar "a ira dos muçulmanos em todo o mundo".
Na terça à noite, o presidente americano falou com o rei Salman e o presidente egípcio, Abdel Fattah Al-Sisi. Ambos advertiram-no a não avançar na mudança de embaixada.
— É uma iniciativa perigosa — disse o rei saudita à emissora de TV Al Ekhbariya.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse que o estatuto de Jerusalém é uma "linha vermelha para os muçulmanos" e ameaçou cortar os laços diplomáticos com Israel.
O secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Abul Gheit, expressou que os membros da entidade decidiram se reunir no Cairo diante do "perigo desta questão e suas possíveis consequências negativas não só para a situação da Palestina, mas também na região árabe e islâmica".
As mesmas palavras foram usadas pelo líder do movimento islâmico palestino Hamas, Ismail Haniyeh, para quem "o reconhecimento da administração americana de Jerusalém como a capital da ocupação e a transferência da embaixada para lá ultrapassam todas as linhas vermelhas".
Dia de cólera
Em carta enviada a dirigentes árabes e muçulmanos, o movimento islâmico convocou os palestinos dos territórios a se manifestarem na sexta-feira, proclamando, segundo uma expressão já consagrada, um "dia de cólera". Em virtude do anúncio de manifestações anunciadas pelos palestinos, Washington decidiu restringir a seus funcionários qualquer deslocamento pessoal na Cidade Velha de Jerusalém.
A interdição vale também para a Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel e contíguo a Jerusalém, acrescentou o Departamento de Estado. Apenas deslocamentos oficiais "essenciais", seguidos de medidas de segurança suplementares, estão autorizados. O Departamento de Estado advertiu, ainda, que "os cidadãos americanos devem evitar os locais onde se concentrem multidões e os lugares onde houver forte presença policial ou militar".
O secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Saeb Erakat, destacou que a mudança da embaixada americana a Jerusalém provocaria um desastre.
O presidente francês, Emmanuel Macron, advertiu Trump que o estatuto de Jerusalém deve ser decidido "no marco das negociações de paz entre israelenses e palestinos".
Promessa de campanha
A transferência da embaixada de Tel Aviv para Jerusalém foi uma das principais promessas de campanha de Trump. O presidente dos EUA diz querer relançar os diálogos de paz congelados entre Israel e os palestinos em busca de um "acordo definitivo", mas seu reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel poderá destruir tal esforço.
_ Não aceitaremos mais a mediação dos Estados Unidos, não aceitaremos a mediação de Trump. Será o fim do papel desempenhado pelos americanos neste processo _ disse Nabil Chaath, alto conselheiro do presidente palestino, Mahmud Abbas.