O ex-presidente do Equador, Rafael Correa, retornou ao país neste sábado (25) em meio a um ambiente tenso para participar de uma convenção do partido no poder, dividido entre seus seguidores e os do presidente Lenín Moreno.
Correa chegou nas primeiras horas da manhã na cidade de Guayaquil (sudoeste), onde centenas de simpatizantes o aguardavam no aeroporto com cartazes dando as boas-vindas, enquanto seus opositores o chamavam de "delinquente".
A polícia precisou estabelecer um cordão de segurança para separar os dois grupos, que se dispersaram horas depois.
Esperava-se que Correa, que se mudou para a Bélgica depois de deixar o cargo, aparecesse na zona de chegada internacional do aeroporto José Joaquín de Olmedo em Guayaquil. No entanto, devido aos embates entre simpatizantes e opositores, o ex-presidente saiu por um hangar localizado nos arredores do terminal aéreo.
"Chegamos, Pátria querida. Cansado, mas feliz", escreveu no Twitter o ex-presidente que governou a nação por uma década.
"Que nada tire nossa alegria, nem mesmo os tempos difíceis que a Pátria e a Revolução estão passando", observou em referência à disputa dentro do partido Alianza País (AP), agora dividido entre 'morenistas' e 'correístas'.
A convenção nacional do partido acontece em 3 de dezembro na cidade de Esmeraldas (noroeste), na presença do ex-presidente, que disse em uma entrevista à AFP que a intenção da reunião é "expulsar" Moreno do partido, acusando-o de "traidor" e de governar com a direita.
Aliados no passado, Correa e Moreno se tornaram rivais políticos e disputam o controle do AP.
O destino do movimento é incerto, mas analistas apontam algumas hipóteses, entre elas o nascimento de um novo partido.
Correa "vem sentir como anda a situação, qual é a sua real capacidade de mobilização e, a partir desse ponto, tudo pode mudar", disse à AFP o analista político Esteban Nicholls, da Universidade Andina Simón Bolívar.
Para o professor, a presença de Correa torna ainda mais importante a consulta popular promovida por Moreno, que busca, entre outras coisas, eliminar a reeleição indefinida aprovada pelo ex-presidente.
"A situação de Correa vai ser resolvida no referendo, não tanto pelo peso das perguntas, mas porque vai medir a capacidade que ainda tem de mobilizar pessoas e canalizar votos a seu favor", opina Nicholls, que não descarta uma assembleia constituinte.
O retorno de Correa ameaça selar a fratura definitiva no partido no poder, cuja crise se agravou com o afastamento do vice-presidente Jorge Glas (aliado de Correa) por Moreno e as acusações que pesam contra ele por corrupção no caso Odebrecht.
A delicada situação econômica do país é outro fator que divide o oficialismo. Moreno, que assumiu a presidência em 24 de maio, acusou Correa de uma administração irresponsável da economia e criticou o endividamento.
O ex-presidente planeja realizar uma coletiva de imprensa na parte da tarde na sede local do partido político e depois vai se encontrar em um almoço com seus seguidores.
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* AFP