A passagem do potente furacão Harvey pelo Texas deixou pelo menos um morto, danos e inundações "extremamente sérias", cujo impacto deve levar "anos" para ser revertido - disseram autoridades locais neste sábado (26).
Esta foi a mais intensa tormenta já registrada nos Estados Unidos desde 2005.
Após atingir o território americano como um furacão de categoria quatro (de uma escala máxima de cinco) na sexta-feira (25), Harvey se degradou para tormenta tropical, com ventos de cerca de 110 km/h, informou hoje o Centro Nacional de Furacões (NHC, na sigla em inglês).
Seu lento avanço pela região - a apenas 4 km/h - o torna muito perigoso, devido às "chuvas torrenciais" que devem castigar a área por vários dias.
O furacão está provocando "inundações extremamente sérias", anunciou o NHC, que advertiu que chuvas de mais de 1000 milímetros em algumas comunidades podem se prolongar até quinta-feira, causando "inundações catastróficas e ameaçadoras para a vida".
Um morto foi confirmado até o momento.
"Trata-se de uma pessoa que ficou presa no incêndio de sua casa durante a tempestade", disse à imprensa o juiz C.H. "Burt" Mills, do condado de Aransas, na costa texana.
Ainda segundo ele, pelo menos dez pessoas ficaram levemente feridas.
Pouco antes, o governador do Texas, Greg Abbott, havia confirmado "danos muito importantes" em várias localidades, alertando para inundações "gravíssimas".
Neste sábado, o presidente Donald Trump convocou as equipes de emergência a "se manterem totalmente mobilizadas", porque as consequências do Harvey serão sentidas durante vários dias, segundo a Casa Branca.
- 'Estava apavorado' -
"Estamos perto da baía, acostumados a ventos fortes, mas nada parecido com o que vimos ontem à noite. Eu estava apavorado", contou à AFP Brandon Gonzalez, proprietário de uma loja em Corpus Christi, localidade costeira de 300.000 habitantes transformada em cidade-fantasma após a evacuação em massa dos moradores.
"Foi a tempestade mais assustadora de toda minha vida vida", comentou Cherylyn Boyd, quem também enfrentou a tormenta em casa, ao contrário de milhares de moradores das zonas costeiras que foram buscar proteção no interior.
Ruas e estradas debaixo d'água, casas sem teto, sinais de trânsito derrubados, pequenos aviões esmagados em seus hangares, galhos de árvores por todos os lados: eram estes os efeitos mais visíveis do Harvey neste sábado.
"Lojas e casas ficaram completamente destruídas e, certamente, um grande número de vias foi afetado de maneira significativa", comentou o prefeito de Rockport, C.J. Wax, em declarações à rede MSNBC.
Pelo menos dez pessoas ficaram feridas nessa cidade, vítimas da queda de telhados e de árvores, relatou à imprensa local o porta-voz da prefeitura Kevin Carruth.
"Já sofremos um duro golpe com essa tempestade, mas antecipamos que virá outro com as inundações que afetarão o interior", onde o Harvey está quase estacionado, acrescentou Wax, em entrevista à emissora CNN.
O prefeito de Port Arensas, Keith McMullin, disse à televisão local que as primeiras equipes de reconhecimento encontraram uma parte da localidade "totalmente destruída".
"O risco ainda é muito real. Historicamente, a água tem sido uma ameaça maior para a vida do que o vento", após a passagem dos furacões, relatou o Centro Nacional do Clima (NWS, na sigla em inglês).
- 112 plataformas evacuadas -
Uma convocação de retirada voluntária foi divulgada em várias localidades com risco de inundação. As autoridades também começaram a retirar os presos de um centro de detenção na cidade de Rosharon, ao sul de Houston, devido ao aumento no volume de água de um rio próximo.
Segundo o governador do Texas, mais de 338.000 pessoas estavam sem energia elétrica na região, o que "vai durar vários dias".
Harvey continuará afetando essa região de grande produção de petróleo. Um fato "incomum" para o especialista em furacões da Universidade de Miami Brian McNoldy.
"Até onde me lembro, não acho que já tenha havido algo desse tipo", em que um furacão fica estacionado em um lugar "até, talvez, uns seis dias", disse à AFP.
Na costa texana, concentra-se quase um terço da atividade de refino de petróleo dos Estados Unidos. O Golfo do México representa 20% da produção do país.
Segundo boletim deste sábado, 112 plataformas foram evacuadas - o correspondente a 24,5% da produção diária de cru, e a 26% da de gás.
O Harvey fez reviver nos Estados Unidos o trauma do furacão Katrina, que causou graves inundações e deixou 1.800 mortos, em 2005, em Nova Orleans (sul), no estado vizinho de Louisiana. Na época, o presidente George W. Bush foi duramente criticado por sua lentidão e atuação tardia para ajudar uma região muito carente e de maioria afro-americana.
* AFP