Um ano após o atentado cometido com um caminhão que fez 86 mortos na cidade francesa de Nice, milhares de pessoas se reuniram, nesta sexta-feira (14), no Passeio dos Ingleses para homenagear às vítimas do ataque reivindicado pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI).
Com os olhos cheios de lágrimas, Florence, de 52 anos, explica a importância de que "todos se lembrem".
– Não podemos virar a página de um acontecimento como este, a gente apenas administra – desabafa.
Em 14 de julho de 2016, um caminhão atropelou uma multidão durante uma festa com queima de fogos em comemoração ao Dia da Bastilha, em Nice.
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Uma multidão silenciosa, com muitos sobreviventes, depositava, um por um, os 12 mil pequenos azulejos azul-branco-vermelho que formaram uma gigante mensagem na calçada.
Cada um carrega o nome das 86 vítimas, caligrafado em forma de coração. Durante toda a manhã desta sexta-feira, em letras monumentais, o lema "Liberdade, Igualdade, Fraternidade" aparecia a algumas centenas de metros do local do massacre.
No Passeio dos Ingleses, enfeitado com bandeiras tricolores, reina o silêncio. O tráfego foi bloqueado, o mar parece mais próximo, os turistas aproveitam a água azul-turquesa em frente ao Hotel Negresco. Apenas os aviões que aterrissam são ouvidos, indicando uma ressurreição turística vital para a cidade litorânea.
A prefeitura planejou uma grande homenagem, iniciado na quinta-feira (13) à noite, com uma missa solene na catedral. A cerimônia contou com a participação de representantes de todas as religiões. A circulação em grande parte do centro da cidade foi proibida aos veículos, e a segurança é máxima, com muitos policiais à paisana.
Os floristas de Nice se uniram para distribuir rosas brancas às pessoas. As televisões de todo o mundo cobrem o evento. No microfone, um homem recordou a tragédia, com a voz embargada pela emoção.
– Ver crianças mortas é insustentável – afirmou, apontando para a calçada que há um ano foi manchada de sangue.
"Estava presente"
A dois passos, com os olhos vermelhos, o rosto sério, famílias enlutadas e vítimas deixam o jardim onde acontecia a celebração ecumênica.
– Nós só pensamos nas famílias. É muito, muito triste, especialmente para as crianças. O feriado de 14 de Julho é normalmente um dia de alegria – afirma a irlandesa Pauline, que há dez anos vem passar as férias na Riviera Francesa.
Vestida de branco e sapato fúcsia, ela retorna para seu pequeno apartamento comprado no centro histórico de Nice com o marido:
– Tive um pouco de medo, mas estou feliz por ter vindo.
Muito emocionada, uma mulher é consolada por um voluntário da Câmara Municipal.
– Eu estava aqui – afirma, chorosa. – Foi horrível, mais que horrível... – sussurra Rahmani, de 62 anos, antes de contar que velou sobre o corpo de uma menina atropelada pelo caminhão há um ano. – Ela devia ter cinco anos, e seu rosto está gravado na minha memória – acrescentou.
Um ano após o ataque, Maria Luisa, uma turista italiana de 69 anos, continua a achar "impossível que algo assim pudesse acontecer", um evento que acontece "apenas nos filmes, ou no outro lado do mundo", completa.
Compatriotas italianos prepararam um cartão de condolências com as palavras do famoso poeta Dante exaltando o amor e a luz. O presidente Emmanuel Macron também participa das solenidades em Nice. Em sinal de luto, não haverá fogos de artifício ou disparos de canhão.