Um iceberg do tamanho do Distrito Federal, um dos maiores já registrados, se desprendeu de uma plataforma de gelo da Antártida Ocidental, anunciaram nesta quarta-feira cientistas da Universidade de Swansea, no Reino Unido.
O iceberg era parte de uma gigantesca plataforma de gelo chamada "Larsen C".
"O desprendimento aconteceu entre segunda-feira e quarta-feira", e foi registrado por um satélite da Nasa, afirmaram os cientistas, que monitoravam a evolução do bloco de gelo, de 5.800 quilômetros quadrados.
"O iceberg pesa mais de um trilhão de toneladas, mas já estava flutuando antes de se desprender, de modo que não terá impacto imediato no nível dos oceanos", disse uma equipe de pesquisadores do projeto Midas Antarctic, da Universidade de Swansea.
O iceberg, que tem uma espessura de 350 metros, será batizado provavelmente de "A68".
"O desprendimento deste iceberg deixa a plataforma de gelo 'Larsen C' reduzida em área em mais de 12%, e a paisagem da Península Antártica mudou para sempre", acrescentou a equipe.
A "Larsen C" tinha, há vários anos, uma fissura enorme que se alargou nos últimos meses (só em dezembro aumentou 18 km). No início de julho, estava unida à Antártica ao longo de somente cinco quilômetros.
A formação de icebergs ocorre naturalmente, mas acredita-se que o aquecimento global tenha acelerado o processo em algumas regiões. A água do oceano mais quente desgasta a parte inferior das plataformas de gelo, enquanto o aumento das temperaturas do ar as enfraquece por cima.
O novo iceberg gigante será observado de perto devido ao risco potencial para navios.
"Os grandes são mais fáceis de detectar no oceano. Este, com certeza, será rastreado muito facilmente por satélite", disse à AFP Mark Drinkwater, especialista em gelo da Agência Espacial Europeia (ESA).
"A preocupação é se o bloco se dividir em uma miríade de icebergs menores", acrescentou.
Existe também o risco de que pedaços menores e soltos que ficaram para trás quando o bloco principal se separou irão se desprender agora.
"Parece haver uma série de fraturas que podem indicar que outros pedaços podem romper depois", disse Drinkwater.
Risco de desintegração
Os especialistas discordam sobre se a separação aumenta o risco da "Larsen C" se desintegrar, como aconteceu com seus vizinhos "Larsen B", em 2002, e "Larsen A", em 1995.
Flutuando no oceano, as plataformas de gelo são alimentadas por geleiras que fluem lentamente da terra. Sem elas, as geleiras fluiriam diretamente para o mar.
Se as geleiras retidas pela "Larsen C" vazassem para o Oceano Antártico, isso elevaria o nível dos mares em cerca de 10 centímetros, de acordo com pesquisas anteriores.
Privada deste enorme bloco de gelo, a "Larsen C" é "potencialmente menos estável", alertaram os pesquisadores do Midas.
"Nos meses e anos subsequentes, a plataforma de gelo poderia recrescer gradualmente, ou pode sofrer mais eventos de desprendimento que eventualmente podem levar ao desmoronamento", disse o pesquisador principal, Adrian Luckman.
"Nossos modelos dizem que será menos estável, mas qualquer desintegração futura permanece a anos ou décadas de distância", acrescentou.
Drinkwater, no entanto, disse que os dados de satélites e os anos de pesquisa no local mostram que a plataforma "está em uma configuração muito estável".
"Nós vamos monitorar atentamente em busca de sinais de que o resto da plataforma esteja se tornando instável", acrescentou o glaciólogo da Universidade de Swansea Martin O'Leary, outro membro do projeto Midas.
Para Catherine Ritz, do instituto de pesquisa CNRS da França, a separação do iceberg colocou em evidência a pressão crescente do aquecimento global.
"É um sinal de que as plataformas de gelo são cada vez mais vulneráveis", disse à AFP. "Essas (plataformas) 'Larsen' já existiam no início do Holoceno" - o período geológico atual, que começou há cerca de 12.000 anos.
Mas segundo O'Leary e Drinkwater, esse desprendimento de iceberg em particular não está relacionado com o aquecimento global.
De acordo com O'Leary, "não temos conhecimento de nenhuma ligação (desse evento) com as mudanças climáticas induzidas pelo homem", enquanto Drinkwater o chamou de "um típico evento de desprendimento de iceberg" ao longo de falhas muito antigas na plataforma de gelo.
Isso não significa, porém, que outras plataformas de gelo não estejam sofrendo os efeitos do aquecimento.
E no futuro, "com o aquecimento climático, certamente há uma chance de que plataformas de gelo sejam removidas mais e mais ao sul ao longo da península antártica", disse Drinkwater.
As ações humanas elevaram a temperatura média global do ar em cerca de um grau Celsius desde a era pré-industrial, de acordo com cientistas, e a Antártica é uma das regiões que aquece mais rapidamente do mundo.
* AFP