O filho mais velho do presidente americano, Donald Trump, divulgou na terça-feira (11) e-mails em que revela que aceitou se reunir com uma advogada russa na tentativa de obter dados comprometedores sobre a candidata democrata, Hillary Clinton, na campanha eleitoral de 2016.
A explosiva revelação é mais um capítulo do escândalo sobre o papel da Rússia nas eleições presidenciais do ano passado, que persiste em ameaçar a Casa Branca.
O empresário Donald Trump Jr. decidiu tornar públicos os e-mails a fim de responder a uma série de denúncias publicadas no último final de semana pelo jornal The New York Times, que revelou o encontro. O gesto do filho do magnata republicano, contudo, parece ter piorado ainda mais a situação.
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Segundo as mensagens, Rob Goldstone, um assessor de imprensa próximo à família Trump, informou em 3 de junho de 2016 ao filho do presidente americano que havia pessoas na Rússia que tinham "documentos oficiais e informações que poderiam comprometer Hillary" e que isso seria "muito útil" para seu pai.
Goldstone ficou sabendo da oferta russa por meio de um cantor pop que ele representava, Emin Agalarov. De acordo o assessor de imprensa, a informação era "de muito alto nível e muito sigilosa", mas fazia "parte do apoio da Rússia e de seu governo ao senhor Trump".
Trump Jr. respondeu que estava viajando, mas deixou claro seu interesse:
"Se é o que você me diz, eu adoraria", e marcou uma reunião com Natalia Veselnitskaya, uma "advogada do governo russo", segundo as mensagens.
Em 9 de junho, Trump Jr. se encontrou com Veselnitskaya em um escritório da Trump Tower em Nova York. O primogênito garantiu que não contou ao pai sobre o encontro com a advogada russa durante a campanha de 2016.
– Não. Não havia nada. Não havia nada a dizer – declarou Donald Trump Jr. à Fox News. – Eu nem sequer teria lembrado disso se vocês não tivessem mexido neste assunto. Foi literalmente um desperdício de 20 minutos, uma lástima – disse na entrevista.
"Não havia informação"
Também participaram do encontro o empresário Jared Kushner – casado com a filha mais velha de Trump, Ivanka, e hoje assessor direto do presidente na Casa Branca – e o então diretor de campanha do candidato republicano, Paul Manafort.
Em declaração publicada na terça-feira, pelo Twitter, Trump Jr. afirmou que a advogada "não tinha informações a oferecer e queria falar sobre a política de adoção" de crianças russas por famílias americanas.
O advogado do presidente, Jay Sekulov, afirmou ao canal CNN que o republicano não teve conhecimento do encontro do filho com advogada russa rusa até "muito recentemente" e não sabia nada sobre os e-mails.
– O presidente não havia visto nenhum e-mail (...) até hoje. Quero que fique claro – afirmou.
Veselnitskaya assegurou à rede de TV americana MSNBC que ela nunca teve nenhuma informação comprometedora sobre Hillary e que não sabia que os interlocutores esperavam essas informações dela.
Segundo Veselnitskaya, Kushner se retirou da reunião depois de 10 minutos e não voltou, e Manafort permaneceu o tempo todo lendo coisas no telefone celular.
– Nunca tive nenhuma informação sigilosa sobre Hillary Clinton, e nunca foi minha intenção tê-la – afirmou a advogada, acrescentando que Trump Jr, Kushner e Manafort "possivelmente estavam buscando" esses dados.
Trump Jr. ainda afirmou na terça-feira que decidiu divulgar os e-mails para ser "totalmente transparente", embora tenha deixado em evidência que procurou o encontro em busca de informações para prejudicar Hillary Clinton.
O presidente Donald Trump elogiou a decisão do filho mais velho.
– Meu filho é uma pessoa valiosa e aplaudo sua transparência – disse em declaração lida pela porta-voz da Casa Branca Sarah Huckabee.
Traição?
As reações contrárias não demoraram a aparecer. O influente senador republicano Lindsey Graham disse à CNN que Trump Jr. é "novo na política" e que "não se pode permitir que um governo estrangeiro contate uma campanha e diga que quer ajudar". O episódio, disse o senador, "demandará que muitas perguntas sejam formuladas e respondidas".
O senador Tim Kaine, que foi candidato a vice-presidente na chapa com Hillary Clinton, avaliou que o escândalo ganhou tamanha dimensão que já pode ser considerado um caso de traição.
– Acho que já estamos muito além da obstrução à Justiça. Isso está caminhando para o perjúrio, o falso testemunho e até potencialmente para a traição – comentou.
O vice-presidente, Mike Pence, rapidamente tentou se distanciar do escândalo. Seu porta-voz, Marc Lotter, afirmou no Twitter que Pence "não teve conhecimento da reunião".
"Também está concentrado nas histórias sobre a campanha, especialmente aquelas que se referem a um período anterior ao momento em que se juntou à ela", disse.
O senador democrata Ron Wyden disse em nota oficial que "o alto escalão da campanha de Trump caminhou com os olhos abertos para uma reunião planejada a fim de fazer avançar o apoio do governo da Rússia a Donald Trump".
O deputado democrata David Cicilline, por sua vez, disse que era "assustador" que pessoas ligadas a Trump tenham aceitado participar de uma reunião pensando que poderiam receber informações confidenciais provenientes de um governo estrangeiro em plena campanha eleitoral.
Crise política
A interminável controvérsia sobre o papel da Rússia na campanha eleitoral de 2016 representa um contínua dor de cabeça para a Casa Branca.
O general Michael Flynn perdeu o cargo como assessor de Segurança Nacional por ter ocultado de Pence os contatos com diplomatas russos antes de assumir o poder.
Mais tarde, o diretor do FBI, James Comey, perdeu o cargo por resistir às pressões de Trump para que seus investigadores não incomodassem Flynn. Até o procurador-geral e secretário de Justiça, Jeff Sessions, teve que recuar de qualquer contato com investigações sobre o assunto.
O Departamento de Justiça nomeou um procurador especial, Robert Mueller, para investigar as denúncias sobre a interferência da Rússia na eleição presidencial e a eventual cumplicidade da campanha de Trump.