O presidente americano Donald Trump recorreu ao Twitter nesta quinta-feira (15) para classificar como falsa uma notícia que o acusa de obstruir a justiça nas investigações sobre uma suposta intromissão russa nas eleições americanas de novembro passado.
"Eles fizeram um falso conluio com a história russa. Acharam zero prova, e agora falam de obstrução de justiça numa notícia falsa. Legal", tuitou o chefe de Estado.
Trump respondeu assim às novas revelações da imprensa segundo as quais o procurador especial Robert Mueller busca investigar se o presidente tentou obstruir a justiça.
Em uma segunda mensagem na mesma rede social, Trump denunciou "a maior caça às bruxas na história política dos Estados Unidos".
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O presidente tem muita coisa em jogo neste caso. Se houver provas de que obstruiu a justiça, poderá passar por um procedimento de impeachment no Congresso.
A revelação sobre as apurações do procurador independente Robert Mueller foi feita na quarta-feira pelo jornal The Washington Post.
Citando fontes anônimas, o jornal informou que altos funcionários de Inteligência aceitaram prestar depoimento a investigadores que trabalham para Mueller.
Entre estes funcionários estão o diretor nacional de Inteligência, Daniel Coats; o chefe da Agência Nacional de Segurança, Mike Rogers, e seu ex-auxiliar Richard Ledgett. Os depoimentos poderão ocorrer ainda esta semana.
Esta investigação também abarcaria uma eventual conivência entre elementos ligados a Donald Trump e Moscou durante a vitoriosa campanha eleitoral do magnata republicano.
O giro na investigação ocorreu após Trump demitir, no dia 9 de maio, o então diretor do FBI, James Comey, segundo o Post.
Mueller, um ex-diretor do FBI, analisa a hipótese de um possível esforço de Trump por obstruir a ação da Justiça na investigação.
Citando funcionários, o Post acrescentou que um dos pontos de interesse de Mueller é uma reunião que ocorreu em 22 de maio, quando Coats disse a seus colegas que Trump pediu sua intervenção para que Comey deixasse de investigar o ex-assessor de segurança Mike Flynn no caso sobre a interferência russa nas eleições.
Poucos dias depois da reunião, Trump falou separadamente com Coats e Rogers para pedir que emitissem declarações assinalando que não havia provas sobre ligações entre sua equipe de campanha e a Rússia.
Segundo o Washington Post, os dois funcionários se negaram a emitir as declarações.
Trump nega qualquer conluio entre ele ou algum de seus assessores com a Rússia durante a campanha eleitoral.
Delitos financeiros
O advogado de Trump, Marc Kasowitz, disse que o FBI está por trás da notícia do Post e qualificou o vazamento de "indigno, indesculpável e ilegal", mas não desmentiu a versão.
Mueller relatou seu trabalho a um grupo de senadores.
– Devo admitir que mantivemos uma reunião com o procurador independente Mueller, mas não vou falar do conteúdo – disse à imprensa o democrata Mark Warner, que integra a Comissão de Inteligência do Senado.
A titular do Partido Republicano, Ronna McDaniel, considerou as acusações infundadas e avaliou que "não mudarão nada".
– Não há provas de obstrução e antigos e atuais líderes da comunidade de inteligência têm dito, repetidas vezes, que não houve esforços para impedir a investigação de qualquer forma. Os contínuos vazamentos ilegais são o único crime que estão cometendo aqui – afirmou McDaniel.
O Washington Post também afirmou que os investigadores estão em busca de potenciais delitos financeiros entre colaboradores do magnata.
Mueller foi designado procurador especial para garantir a independência da investigação.
Segundo o código dos Estados Unidos, que reúne o conjunto de leis federais do país, "qualquer pessoa que tente, de forma corrupta, (...) influenciar, travar ou impedir a boa administração da justiça será castigado".
O delito é passível de uma pena de prisão que não exceda os cinco anos.
Os especialistas acreditam que é pouco provável que o departamento de Justiça tome a iniciativa de indiciar um presidente em exercício, mesmo que a investigação de Mueller conclua que houve obstrução da justiça por parte de Trump.
Mas essa eventualidade pressionaria o Congresso, de maioria republicana, a colocar em andamento o procedimento político de destituição (impeachment) contra o presidente.
Os procedimentos de impeachment realizados contra os presidentes Bill Clinton em 1998 e Richard Nixon em 1974 se basearam em acusações de obstrução à justiça.