O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta quarta-feira (17) que nenhum outro político na história do país foi tratado mais injustamente que ele, envolvido em denúncias de que teria tentado pressionar o FBI e obstruir a justiça.
– Olhem a forma como fui tratado recentemente, especialmente pela imprensa. Nenhum político na história, e digo isso com grande segurança, foi tratado pior ou mais injustamente – disse Trump a uma promoção de novos cadetes da Guarda Costeira.
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O republicano evitou fazer referência ao terremoto político provocado em Washington pela denúncia de sua tentativa de pressionar o FBI (a Polícia Federal americana) a abandonar uma investigação sobre seu agora ex-conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn.
Aos cadetes, Trump declarou, porém, que seu governo está conseguindo "coisas enormes em muito pouco tempo" e acrescentou que não foi eleito "para servir à imprensa, ou a interesses especiais".
Em uma nova e perigosa reviravolta, na noite de terça-feira (16), o jornal The New York Times noticiou que possuía um memorando interno escrito pelo ex-diretor do FBI James Comey. Nessa comunicação, Comey afirma que, em uma conversa, Trump tentou encerrar a investigação sobre Flynn.
"Esquizofrenia política"
Em 9 de maio, Trump demitiu James Comey, inesperadamente, e, no dia seguinte, reuniu-se no Salão Oval com o chanceler russo, Serguei Lavrov.
Essa sequência adquiriu uma perspectiva explosiva, porque Comey conduzia no FBI uma investigação sobre o suposto conluio entre a Rússia e o comitê de campanha de Trump na eleição presidencial do ano passado.
A demissão de Comey teve a proporção de um escândalo político nos EUA, especialmente porque a Casa Branca apresentou versões completamente contraditórias sobre o processo que levou a esta decisão.
Trump chegou a postar um comentário no Twitter com uma clara advertência a Comey: recomendou que se mantivesse em silêncio e sugeriu que tinha gravações de suas conversas antes de sua demissão.
O pior ainda estava por vir.
Na segunda-feira (15), a imprensa americana revelou que, em sua conversa com Lavrov, Trump revelou informações de Inteligência classificadas com o grau máximo de sigilo.
Trump teria revelado a Lavrov que o grupo radical Estado Islâmico (EI) planejava ataques contra os Estados Unidos, usando computadores portáteis em voos. Washington teria recebido essa informação de Israel, com a condição de não repassá-la a ninguém.
A Rússia descartou que Trump tenha repassado a Lavrov qualquer informação reservada, e o presidente Vladimir Putin disse que há em Washington um clima de "esquizofrenia política". Afirmou ainda que está disposto a fornecer ao Congresso americano uma transcrição da conversa entre Trump e Lavrov.
Desconfiança generalizadaEm meio ao clima de desconfiança generalizada, a pressão se concentrava no Congresso nesta quarta-feira.
O influente presidente da Câmara de Representantes, o republicano Paul Ryan, declarou hoje que o Congresso não deve "se concentrar em especulações (...) e aqui há claramente política em jogo. Nosso papel é nos concentrarmos nos fatos".
"Seguiremos os fatos a qualquer lugar que nos conduzam", acrescentou o legislador republicano em uma coletiva de imprensa.
Ryan e as bancadas republicanas nas duas Câmaras do Congresso estão sob intensa pressão para que se manifestem sobre as denúncias contra o presidente.
Além disso, afirmou Ryan, o titular da comissão de Supervisão da Câmara Baixa, o republicano Jason Chaffetz, já solicitou formalmente ao FBI que envie ao Congresso o memorando que, segundo o New York Times, foi redigido por Comey.
Nesse contexto, a comissão do Senado que investiga a denúncia de interferência russa nas eleições dos Estados Unidos e um possível complô com a equipe de campanha do presidente Donald Trump solicitou nesta quarta que o ex-diretor do FBI testemunhe na Casa.
O presidente e o vice-presidente do Comitê de Inteligência do Senado enviaram a Comey uma carta "buscando seu comparecimento (no comitê) tanto em sessão aberta, quanto fechada".
Na terça-feira (16), Comey rejeitou uma reunião a portas fechadas.
*AFP