Uma comissão do Senado americano que investiga suposta interferência russa nas eleições americanas e um possível conluio de Moscou com a equipe de campanha do presidente Donald Trump pediu nesta quarta-feira (17) que um dos pivôs do escândalo preste depoimento.
Por meio de carta, os senadores que comandam a comissão pediram a James Comey, ex-diretor do FBI, a polícia federal americana, que compareça ao órgão "tanto em sessão aberta quanto fechada". Na terça-feira, Comey havia rejeitado um encontro a portas fechadas. Não ficou claro se aceita ou não esse último convite. A comissão pediu ao diretor interino do FBI, Andrew McCabe, para fornecer informações sobre encontros de Comey com funcionários da Casa Branca e o secretário de Justiça, Jeff Sessions, ao qual o FBI é subordinado, para abordar a investigação do caso.
Funcionário de carreira do FBI, Comey foi demitido no dia 9 por determinação de Trump. Ele era responsável no órgão pela investigação dos laços entre o governo republicano e os russos. Uma semana depois do afastamento, o jornal The New York Times e outros veículos de comunicação informaram que Trump teria pedido a Comey, em uma conversa em fevereiro, que arquivasse a investigação sobre Michael Flynn, demitido do cargo de assessor de segurança nacional ainda janeiro após a divulgação de contatos com representantes do governo russo.
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– Ele (Flynn) é um bom sujeito. Eu espero que você deixe isso para lá – teria dito Trump ao então diretor do FBI em 14 de fevereiro, na versão de Comey.
Numa atitude usualmente adotada em investigações sobre crime organizado, Comey costumava registrar o conteúdo dessas conversas com Trump em um memorando. O texto não foi visto pela reportagem do The New York Times, mas seu conteúdo foi lido aos jornalistas por um integrante do governo que pediu para não ser identificado por se tratar de matéria confidencial. A lei americana considera que esse tipo de documento, se elaborado no curso de uma investigação por um agente do FBI, tem valor de prova perante a Justiça. Se confirmada a existência do memorando, essa será a a mais forte evidência, até o momento, de que o presidente tentou interferir nas investigações sobre possíveis ligações de membros de sua equipe com a Rússia durante as eleições.
O Caso Comey se soma à polêmica revelação, por Trump, de informações ultrassigilosas de inteligência ao ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, e ao embaixador da Rússia em Washington, Sergey Kysliak. O episódio ocorreu um dia depois da demissão do diretor do FBI e foi revelado na última segunda-feira (15).
Trump teria dito a Lavrov que o grupo terrorista Estado Islâmico (EI) planejava ataques contra os Estados Unidos usando computadores portáteis em voos, uma informação que aparentemente Washington havia recebido de Israel. Em março, EUA, Reino Unido e outros países decretaram proibição de uso de laptops a bordo de aviões – os aparelhos teriam de ser despachados com a bagagem –, a fim de prevenir atentados. Não havia ficado clara, na época, a origem da suposta ameaça. Desde então, segundo a rede NBC, representantes do governo vinham pressionando a imprensa para não se referir ao assunto.
A Rússia descartou que Trump tenha repassado a Lavrov qualquer informação reservada, e o presidente Vladimir Putin disse que havia em Washington um clima de "esquizofrenia política". Putin afirmou ainda que estava disposto a fornecer ao Congresso americano uma transcrição da conversa entre Trump e Lavrov.
Foi nesse cenário de caos, desconfiança generalizada e troca de acusações que a imprensa americana voltou seus olhares para o Congresso, onde apenas a minoria do Partido Democrata reagiu. De acordo com o jornal Washington Post, o único som que se escuta do Congresso são "os grilos".
Nesta quarta-feira, o presidente da Câmara, Paul Ryan, republicano do Estado de Wisconsin, lembrou que duas comissões do Congresso investigam todas as denúncias relacionadas ao papel da Rússia nas eleições do ano passado.
Além disso, afirmou Ryan, o titular da comissão de Supervisão da Câmara Baixa, o republicano Jason Chaffetz, já solicitou formalmente ao FBI que envie ao Congresso o memorando que, segundo o The New York Times, foi redigido por Comey.
Republicano se diz favorável a processo de impeachment de Trump
O deputado republicano Justin Amash, 37 anos, do Estado de Michigan, foi o primeiro do partido a afirmar que há mérito para o impeachment do presidente Donald Trump se comprovado que ele pediu ao ex-diretor do FBI James Comey para encerrar uma investigação federal.
Questionado nesta quarta-feira (17) pelo site The Hill se os detalhes envolvendo um memorando que Comey escreveu após reunião com Trump em fevereiro justificariam um impeachment, Amash disse:
– Sim. Mas todos têm direito a um julgamento justo neste país.
A entrevista de Amash foi concedida ao final do encontro com os líderes republicanos da Câmara dos Deputados. O presidente da Casa, Paul Ryan, afirmou que confia em Trump e que antes de um julgamento apressado, "precisamos dos fatos".
Outro repórter perguntou a Amash se ele confia mais na palavra de Comey ou na palavra de Trump.
– Acho que está bastante claro que eu tenho mais confiança no diretor Comey – replicou o deputado republicano.
Integrante da ala mais conservadora do Partido Republicano, Amash é um crítico frequente do governo Trump e adotou posições contrárias à Casa Branca em temas como a reforma do Obamacare.
Republicanos na Câmara passaram a apoiar o estabelecimento de uma comissão independente para investigar as relações entre Trump e a Rússia. Além de Amash, Walter Jones (Carolina do Norte) e Adam Kinzinger (Illinois) se mostraram favoráveis a isso. Kinzinger, que era contra uma comissão independente, mudou de opinião. Em entrevista à rede CNN na manhã desta quarta, ele disse que "parece que todo dia tem alguma nova informação":
– Isso é muito preocupante e precisamos chegar ao fundo disso. Temos de obter respostas.
*Zero Hora, com informações de agências