Os dirigentes europeus, liderados pela chanceler Angela Merkel, apelaram nesta segunda-feira à "união" e a tomar o destino nas próprias mãos, diante das críticas contra a UE e a Otan do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, às vésperas de sua chegada à Casa Branca.
– Penso que nós, europeus, temos nosso destino em nossas próprias mãos. Vou continuar me comprometendo para que os 27 Estados-membros (já sem o Reino Unido) trabalhem juntos olhando para o futuro – declarou a chefe do governo alemão, criticada por Trump por sua política migratória.
Leia mais:
Europa tem destino nas mãos, diz Merkel após críticas de Trump
Trump promete sistema de saúde "para todos" em substituição ao Obamacare
Chefe da CIA pede a Trump que modere impulsos em meio a suspeitas de interferência russa
Desde a campanha eleitoral, as críticas de Trump não deixam indiferentes seus alvos – seja o México, a China ou a Otan – e, no caso da UE, o americano comemorou o que era uma das principais crises do projeto europeu nos últimos anos: a saída do Reino Unido, a primeira de um país em 60 anos.
Em declarações aos jornais The Times e Bild, o futuro presidente americano considerou, nesta segunda-feira, uma boa decisão a saída do Reino Unido do bloco e previu que "outros países deixarão" a UE, segundo ele, por culpa da crise migratória.
Donald Trump também previu que o Brexit será um sucesso e anunciou que se reunirá muito rapidamente com a primeira-ministra britânica, Theresa May, que, segundo a imprensa britânica, defenderá na terça-feira um divórcio "duro" com a UE em um esperado discurso.
A resposta dos europeus, que tentam dar um novo impulso ao bloco especialmente em matéria de segurança e defesa, não demorou a chegar.
– A União Europeia continuará unida. Estou 100% certa disso – disse a chefe da diplomacia do bloco, Federica Mogherini, ao fim de uma reunião de chanceleres da UE.
Mogherini também lembrou que o Reino Unido não poderá negociar um acordo comercial com os Estados Unidos enquanto continuar sendo membro da UE, contrariando Trump, que disse querer um pacto bilateral "rapidamente".
Preocupação na Otan
As declarações de Trump não preocupam apenas fora dos Estados Unidos, mas também a atual administração em fim de mandato de Barack Obama. Seu embaixador ante a UE, Anthony Gardner, advertiu na sexta-feira sobre a "absoluta loucura" que seria apoiar a "fragmentação da Europa".
A inquietação dos europeus, que nos últimos anos sofreram uma série de atentados terroristas e a maior crise migratória desde a Segunda Guerra Mundial, cresce ainda mais com as críticas do magnata a uma de suas garantias em matéria de segurança, a Otan.
Trump, que já questionou durante a campanha eleitoral o apoio aos seus sócios transatlânticos em caso de ataque, classificou de "obsoleta" a Aliança Atlântica, da qual formam parte 22 dos 28 países do bloco europeu, criticados por ele por não pagar "o que deveriam".
Apenas cinco dos 28 países da Otan – Estados Unidos, Reino Unido, Estônia, Grécia e Polônia – destinam ao menos 2% de seu PIB aos gastos militares, como pede a Aliança Atlântica.
Diante da preocupação gerada no seio da Otan, seu secretário-geral, Jens Stoltenberg, reiterou sua "confiança absoluta" de que Washington respeitará seus compromissos.
O chanceler espanhol, Alfonso Dastis, relativizou os temores, assumindo que os europeus terão que se adaptar à nova relação com Washington "em praticamente todos os temas".
Consequências de "grande alcance"
As linhas de política externa esboçadas por Trump também atacam dois pontos da diplomacia europeia: as sanções contra a Rússia de Vladimir Putin, com quem mantém uma aparente proximidade, e o acordo com Teerã sobre seu programa nuclear.
O presidente eleito se referiu à possibilidade de um acordo de redução de armas nucleares em troca do levantamento das sanções impostas à Rússia por seu papel no conflito na Ucrânia.
A partir de Kiev, o ainda vice-presidente americano, Joe Biden, convocou a comunidade internacional a "seguir unida contra a agressão russa".
Em relação ao acordo com o Irã, que Trump prometeu romper, a UE reiterou sua aposta para seguir implementando este pacto "extremamente importante, sobretudo para nossa segurança", nas palavras de Mogherini.
Em virtude do acordo, a comunidade internacional se comprometia a levantar as sanções contra o Irã em troca de um controle de suas atividades nucleares.
– Seria uma pena que os Estados Unidos, como a maior democracia do mundo (...) agissem de maneira destrutiva – afirmou o chanceler de Luxemburgo, Jean Asselborn, advertindo que, "se destruir a política externa, as consequências serão de grande alcance".
A China advertiu novamente que, se Trump insistir em querer reforçar suas relações com Taiwan, considerada uma ilha rebelde por Pequim, "dará um tiro no próprio pé" e "enfrentará a oposição geral do governo e do povo chinês, assim como da comunidade internacional".
*AFP