Por 14 votos favoráveis, nenhum contrário e uma abstenção, dos Estados Unidos, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou nesta sexta-feira uma resolução que condena os assentamentos israelenses na Cisjordânia ocupada como ilegais e "um perigo claro e presente".
Durante semanas, o governo israelense, organizações americanas pró-Israel como o Comitê de Assuntos Públicos Americano-Israelense (Aipac, na sigla em inglês) e o presidente eleito, Donald Trump, pressionaram intensamente o governo Barack Obama para que vetasse o texto, como havia feito em situação semelhante em 2011. Os EUA, como um dos cinco membros permanentes do Conselho (os demais são Rússia, China, Grã-Bretanha e França), têm o poder de vetar resoluções. A decisão americana pela abstenção marca um dos momentos mais críticos da relação entre Estados Unidos e Israel.
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Na quinta-feira, Trump havia se envolvido pessoalmente na negociação para evitar que a resolução, proposta pelo Egito, fosse levada à votação. Auxiliares de Trump disseram que ele conversou com o premier israelense, Binyamin Netanyahu. Os dois pressionaram o presidente do Egito, Abdel Fatah al-Sissi. O Egito retirou a resolução da pauta do Conselho na quinta-feira.
A frustração com a decisão de Al-Sissi, porém, fez com que um grupo de outros países que ocupam cadeiras rotativas no Conselho de Segurança apresentasse por conta própria o texto do Egito e o colocasse em votação na tarde de sexta-feira. A proposta foi aprovada por 14 votos, com abstenção da embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Samantha Power.
Restando menos de um mês para deixar a Casa Branca, Obama foi, ao longo dos últimos oito anos, extremamente crítico em relação à construção de assentamentos por Israel em territórios ocupados. A exigência de que o governo israelense pusesse fim à expansão de colônias foi parte de seu primeiro grande pronunciamento sobre o Oriente Médio, feito em junho de 2009, na Universidade Al-Azhar, no Cairo. Para o governo Obama, os assentamentos eram um obstáculo à solução de dois Estados para o conflito palestino-israelense. Trump, por sua vez, deixou claro que adotará uma atitude muito mais simpática em relação a Israel quando assumir o governo, no dia 20 de janeiro. Ele indicou como embaixador em Tel Aviv o advogado David Friedman, um partidário decidido dos assentamentos.
O embaixador israelense nas Nações Unidas, Danny Danon, conclamou a delegação americana a bloquear a resolução. "Esta resolução é uma iniciativa palestina, que tem o objetivo de prejudicar Israel", afirmou em um comunicado.
Em reação à abstenção dos Estados Unidos, o presidente eleito Donald Trump escreveu no Twitter que "as coisas serão diferentes a partir de 20 de janeiro", quando ele assume o cargo.
*AFP