As reformas promovidas pelo presidente Raúl Castro, que vão da compra e venda de carros e casas à flexibilização das viagens, passando pela tolerância a pequenos negócios privados, determina que Cuba já vinha pavimentando o caminho para o seu futuro antes mesmo que a vida de Fidel Castro chegasse ao fim. Claro, ninguém imagina que Raúl tenha feito o que fez sem a aquiescência do irmão. Os últimos anos mostraram que Cuba sem Fidel olha para um futuro diferente. Por um simples motivo: necessidade.
Ao mesmo tempo carismática e opressora, a figura de Fidel marcou cinco décadas da história de Cuba em especial e do mundo em geral. Raúl não tem nem metade do carisma do irmão, menos ainda tem o mesmo poder simbólico – o que é algo bastante significativo.Ainda assim, foi ele quem protagonizou as mudanças. Sempre afinado com o líder maior da revolução, foi o atual presidente quem ditou as mudanças que preveem até mandatos políticos limitados.
– A especial confiança que o povo outorga ao líder de uma Revolução não se transmite como se fosse uma herança – admitiu o próprio Raúl em 2006, antes da internação e do afastamento de seu irmão.
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Em 17 de dezembro de 2014, Raúl foi à TV estatal cubana anunciar a reaproximação com os EUA. Quase ao mesmo tempo, o presidente americano, Barack Obama, anunciou a novidade. A decisão histórica, que levaria os dois países a reabrirem as embaixadas em Washington e Havana, é um indício de que, apesar de sua falta de brilho, Raúl teve tempo para ser aceito como o novo condutor do país. E as reformas, que incluem até mesmo o fim do câmbio duplo, procuram preparar a ilha para resistir a mais esse baque, que é a perda da sua grande referência, do líder maior. Trata-se de um baque que se segue ao empobrecimento do país sem um parque industrial forte e sobrevivendo do turismo e da boa vontade de aliados ocasionais (a União Soviética, durante a Guerra Fria, e, mais recentemente, a Venezuela de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, mas com a ressalva de que o dinheiro do petróleo venezuelano escasseia à medida que o próprio país do chavismo enfrenta sua crise interna, com desabastecimento, inflação nas alturas e petróleo com preço em queda).
Enfim, é provável que o próprio Fidel já soubesse: sem ele, novos rumos eram necessários. Impunha-se ajudar a renovar a Ilha ainda em vida, dando suporte ao irmão mais novo.A dúvida que fica é: até quando Cuba vai continuar nominalmente um país socialista? Vai abolir o regime como a antiga URSS ou tentará um híbrido com a economia de mercado, a exemplo do que a China faz?O socialismo em um único país é impossível no mundo de economia globalizada de hoje. Os movimentos de Raúl fazem crer que mudanças devem se aprofundar. Mas e os EUA? Até quando manterão um embargo econômico? É provável que, sem Fidel, os americanos fiquem mais à vontade para terminar com o embargo. Obama tentou, mas esbarrou na oposição republicana no Congresso, que precisaria aprovar a medida. Com a eleição de Donald Trump – e um Congresso americano ainda mais dominado pelos republicanos – é difícil imaginar o fim do bloqueio a curto prazo. Nunca, desde 1959, Cuba esteve tão perto e tão longe dos EUA. Ao mesmo tempo.
As reformas promovidas pelo presidente , que vão da compra e venda de carros e casas à flexibilização das viagens, passando pela tolerância a pequenos negócios privados, determina que Cuba já vinha pavimentando o caminho para o seu futuro antes mesmo que a vida de Fidel Castro chegasse ao fim. Claro, ninguém imagina que Raúl tenha feito o que fez sem a aquiescência do irmão. Os últimos anos mostraram que Cuba sem Fidel olha para um futuro diferente. Por um simples motivo: necessidade.
Ao mesmo tempo carismática e opressora, a figura de Fidel marcou cinco décadas da história de Cuba em especial e do mundo em geral. Raúl não tem nem metade do carisma do irmão, menos ainda tem o mesmo poder simbólico – o que é algo bastante significativo.