Eles esperaram quatro, cinco, até seis horas na fila. Aguentaram uma revista minuciosa da polícia. Suportaram o vento gelado que soprava do rio Delaware. E saíram do Independence Mall, histórico local onde foram assinadas a independência e a constituição dos Estados Unidos, com a sensação de uma festa da vitória antecipada.
Assim foi a noite da despedida da campanha de Hillary Clinton para cerca de 40 mil eleitores, voluntários e militantes do Partido Democrata que se reuniram no centro histórico da Filadélfia. Além do contexto histórico, Hillary escolheu a cidade para encerrar a corrida presidencial por ter sido também ali que ela iniciara, na Convenção Nacional do partido, em julho. O Estado da Pensilvânia, onde fica a Filadélfia, é um dos campos de batalha da eleição – quem ganhar no Estado tem chances reais de chegar à Casa Branca.
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Quem foi até o Independence Mall não buscava apenas ver e ouvir Hillary a poucas horas do início da votação oficial - alguns Estados já estão votando de forma antecipada. Os eleitores queriam ver as estrelas do Partido Democrata ocupando os mesmos espaço e tempo. Estavam reunidos ali, em frente a uma bandeira americana na posição vertical, o ex-presidente Bill Clinton, marido de Hillary e que foi antecedido pela filha do casal, Chelsea, o presidente Barack Obama e a primeira-dama Michelle Obama – mais aplaudida até do que a própria Hillary ao ser chamada ao palco por Bill.
Desde muito cedo, a multidão fazia fila para entrar na área do comício. Cada pessoa era revistada e obrigada a passar por detectores de metal. Os portões abriram às 16h (19h pelo horário de Brasília), mas alguns eleitores só conseguiram ingressar na área restrita da festa por volta de 21h (0h em Brasília), pouco antes de Hillary falar. Em um certo momento da tarde, a fila se estendia por mais de 10 quarteirões do centro histórico.
O discurso da candidata foi antecedido pelos astros Jon Bon Jovi e Bruce Springsteen, apoiadores de Hilary. Springsteen, inclusive, é um tradicional eleitor democrata, tendo participado ativamente das campanhas de Obama, em 2008 e 2012. No evento desta segunda-feira, optou por um tom intimista, de voz e violão. Interpretou apenas duas músicas.
Obama usou sua fala para agradecer o apoio dos eleitores ao longo dos últimos oito anos. Também elogiou a mulher e primeira-dama Michelle por acompanhá-lo nos desafios da Casa Branca. Repetindo um apelo que havia feito nos dois comícios anteriores do dia, apostou em um discurso de esperança.
– Posso apostar que os EUA vão rejeitar a política do ressentimento e escolher a política que diz que unidos somos mais fortes.
O comício teve um tom saudosista, quase uma entrega de bastão para Hillary, de quem Obama foi rival nas prévias internas do Partido Democrata em 2008. Passada aquela eleição, os dois selaram um pacto de convivência, e Hillary serviu como chefe da diplomacia americana no primeiro mandato. Obama subiu ao palco ao som de City of Blinding Lights, do U2, tema da campanha de 2008. Ao lembrar a eleição para o primeiro mandato, brincou:
– Vocês me deram uma oportunidade, a um cara magro com um nome meio estranho, e nesses oito anos vi o quanto vocês trabalharam pelos valores que ensinamos às nossas crianças.
Ao chamar a candidata a sucessão, o presidente deu um longo abraço em Hillary. Vestindo calça e casaco vermelhos, a senadora falou durante 18 minutos e rejeitou o tom agressivo da campanha. Mas não poupou ataques ao rival republicano, Donald Trump:
– Trump é uma bala perdida que colocará tudo em risco.
A candidata fez questão de ressaltar as diferenças em relação ao adversário, posicionando-se como uma presidente de futuro:
– Vamos fazer história juntos – conclamou, sob aplausos.
Foi sem dúvida o maior ato da campanha de Hillary. Encerrada a corrida, agora é esperar pelas urnas nesta terça-feira.
*ZERO HORA