O haitiano Estant Jeune, 32 anos, vive dias de incerteza e preocupação. Seu pai e sua irmã vivem em Saint Michel de l'Attalaye, e o irmão, na capital Porto Príncipe. Jeune não consegue falar com eles desde segunda-feira, um pouco antes da passagem do furacão Matthew pelo país caribenho. Após este contato, o auxiliar de almoxarifado não conseguiu mais ter notícias dos familiares.
– É bem complicado. Não consigo falar com eles, porque caiu tudo lá (comunicações). Estou bem triste, espero que não tenha acontecido nada de mal com eles para conseguir fazer contato e ver como posso ajudá-los.
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Estant mora em Porto Alegre há pouco mais de quatro anos e divide as finanças para pagar o aluguel, comprar o rancho para a casa e converter o que sobra em dólar para enviar aos familiares que deixou no Haiti. Perguntado sobre o que vai fazer se não conseguir contato com os parentes nos próximos dias, o haitiano não soube responder.
– Não sei o que vou fazer. Não consigo falar com eles e só indo lá vou saber o que houve, mas ir para lá é bem complicado. A passagem é muito cara – lamentou.
Estant disse que vai seguir tentando contato com o pai e os irmãos por meio de ligações telefônicas e também por mensagens via Facebook. O haitiano afirmou que, enquanto isso, seguirá trabalhando para ter o dinheiro necessário para ajudar a família, que é um dos principais motivos que forçaram a vinda dele ao Brasil.
Histórico de tragédias
Alix Georges, 34 anos, que mora no Brasil desde 2006, está angustiado com a situação pela qual passa o seu país após a passagem devastadora do furacão Matthew, que já deixou ao menos 840 mortos na ilha caribenha. Três irmãs de Georges, que trabalha como professor de idioma na Secretaria Municipal de Direitos Humanos de Porto Alegre, ainda moram na capital do Haiti, Porto Príncipe. Graças às redes sociais, ele conseguiu manter contato com a família.
– Nós temos um grupo da família no WhatsApp. Nos mantemos atualizados desde o fim de semana passado. Estão todos bem. A região onde moram foi atingida por bastante chuva e vento, mas (as irmãs) não foram afetadas diretamente – disse.
Georges disse que as últimas tragédias que atingiram o Haiti o deixam muito triste, mesmo que não esteja lá. O professor de idiomas usa a música para enfrentar e extravasar os sentimentos que passam pela sua mente após esses momentos tristes. Nos últimos anos, diversas tragédias atingiram o Haiti. Em 2010, um terremoto matou mais de 300 mil pessoas. Anteriormente, os furacões Hanna, em 2008, e Jeanne, em 2004, tiraram a vida de 3,5 mil haitianos.
– Isso que aconteceu no meu país é inexplicável. Uso a música para tentar desabafar e não deixar que essa tragédia me abale. É muito triste para mim, mas tenho certeza que os haitianos vão enfrentar isso e seguir em frente.
Georges disse que, "se pudesse, ia amanhã para o Haiti para ajudar seus compatriotas", mas que seu emprego em Porto Alegre e as dificuldades financeiras para "comprar" uma passagem em cima da hora dificultam a possibilidade.
Durante a conversa com Zero Hora, ele pediu para cantar um trecho da música que fez para encarar a situação caótica pela qual passa seu povo.
– A vida é assim, tem que ir até o fim. Não para de lutar. Sua vitória vai chegar. Apenas é dor do sofrimento, a dificuldade. Olhe para cima, confia em Deus, confia em ti, na tua força. Com humildade, levanta a cabeça e vamos para a luta (...) – cantou Georges, enquanto se deslocava de trem em direção a São Leopoldo, onde daria aula na escola de idiomas Québec Sem Fronteira na noite desta sexta-feira.
Alívio ao falar com os pais
Os pais e os dois irmãos de Maxonuy Vertu, 33 anos, que vive em Porto Alegre, residem em Cabo Haitiano, no norte do país, uma das regiões menos afetadas, segundo ele.
– Não aconteceu nada com a minha família, mas fico muito triste. Em 2010, durante o terremoto, eu estava na República Dominicana e já havia ficado muito triste com a tragédia, e agora acontece isso (furacão). Gostaria de ajudar, mas fica muito longe, não tenho como ir agora. Sinto saudade deles (família), é bem complicado – disse.
*Zero Hora