O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, anunciou neste sábado que pretende assumir o controle direto dos serviços de inteligência e da cúpula do Estado-Maior, após a tentativa de golpe militar no país em 15 de julho.
– Vamos apresentar uma pequena reforma constitucional (no Parlamento), que, se for aprovada, colocará o Serviço Nacional de Inteligência (MIT) e os chefes do Estado-Maior (do Exército) sob controle da presidência – disse Erdogan à emissora de televisão A-Haber.
Para ser adotada, essa reforma deve ser aprovada por uma maioria de dois terços do Parlamento. Para isso, o governo islâmico conservador do AKP precisará do apoio de alguns partidos da oposição. Em 26 de julho, o primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, garantiu que as principais siglas opositores estão preparadas para trabalhar com o governo na elaboração de uma nova Constituição. Na última quinta-feira, Yildirim se reuniu com o Conselho Militar Supremo (YAS, na sigla turca) para tratar do assunto.
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Na mesma entrevista à rede A-Haber, Erdogan anunciou o fechamento de todas as escolas militares e a abertura de uma nova universidade para formação das Forças Armadas. De acordo com informações publicadas pelo jornal Folha de São Paulo, o presidente anunciou neste domingo a destituição de 1,4 mil membros das Forças Armadas, em nova etapa do expurgo promovido após a tentativa de golpe.
Com o novo anúncio, passa de 3.000 o número de militares expulsos. Dentre os expurgados, estavam os ajudantes de ordens de Erdogan, do chefe do Estado-Maior, Hulusi Akar, e do ministro da Defesa, Fikri Isik. Todos são suspeitos de ligação com o movimento Hizmet, do líder religioso Fetullah Gülen, apontado por Erdogan como responsável pelo golpe. Gulen, que vive em autoexílio nos Estados Unidos, nega sua participação e condenou o levante nos quartéis.
País vive em estado de emergência após tentativa de golpe
Instaurado pouco depois da insurgência militar, o estado de emergência na Turquia poderá ser prolongado, assim como fez a França após os ataques extremistas cometidos no país, disse Erdogan.
– Se as coisas não voltarem ao normal durante esse período de estado de emergência (três meses), podemos prolongá-lo – declarou o presidente turco.
Desde 15 de julho passado, 18.699 pessoas foram colocadas sob custódia, e 10.137 delas, sob prisão preventiva.
Ancara intercepta mensagens dos golpistas
Segundo uma fonte do governo que pediu para não ser identificada, há mais de um ano, as autoridades turcas começaram a interceptar mensagens dos organizadores da tentativa de golpe em um serviço de mensagens encriptadas usado por simpatizantes do clérigo Gülen.
A mesma fonte disse que os serviços de Inteligência turcos (MIT) conseguiram quebrar a encriptação das mensagens trocadas no aplicativo ByLock a partir de maio do ano passado. Com essa vigilância, foi possível conhecer os nomes de 40 mil simpatizantes do movimento gulenista, entre eles 600 militares de alto escalão.
– Um grande número de pessoas identificadas graças ao Bylock esteve diretamente envolvido no golpe de Estado – afirmou o oficial consultado pela Agência France Press (AFP).
Segundo ele, os partidários do pregador exilado nos Estados Unidos teriam adquirido o costume de conversar em sistemas de troca de mensagens encriptadas em 2013 e começaram a usar o ByLock em 2014.
– Os dados coletados no ByLock nos permitiram fazer um esquema de sua rede, pelo menos de uma boa parte dela. Depois, quando se deram conta de que o ByLock não era seguro, trocaram de aplicativo – acrescentou.
Os envolvidos no golpe teriam trocado mensagens pelo WhatsApp durante o dia do motim. Há um ano, esse aplicativo oferece encriptação "total" de suas comunicações.
* AFP