Pouco depois de o Estado Islâmico (EI) assumir a autoria do atentado de Nice, que deixou 84 mortos na quinta-feira, especialistas afirmaram que a reivindicação pelo grupo extremista é "ambígua".
_ Ela é ambígua pois não especifica se (o atentado) foi ordenado ou apenas inspirado nos chamados para atacar a França, feitos pelo EI _, destacou Yves Trotignon, ex-analista dos serviços de inteligência franceses, a DGSE.
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David Thomson, especialista em extremismo islâmico, reforçou que no geral o grupo faz uma distinção entre "soldados" e "simpatizantes" em suas reivindicações.
Neste caso, "a mensagem é um pouco contraditória", afirmou Thomson, pois apresenta o assassino de Nice como um "soldado", o que leva a crer que ele jurou lealdade ao grupo, mas acrescenta que ele agiu "em resposta aos chamados" do EI.
Em 2014, o porta-voz oficial da organização, Abu Mohamed Al Adnani, pediu aos seus simpatizantes que utilizem qualquer meio disponível, como "veículos", para matar "infiéis" americanos e europeus.
EI nunca assumiu ataques de forma "oportunista"
Apesar da dúvida, Thomson ressaltou que, embora o EI não tenha ordenado necessariamente o ataque de forma direta, até agora nunca fez uma reivindicação falsa.
O especialista destacou que "várias vezes (o grupo) teve a possibilidade de reivindicar a autoria de um ataque que não cometeu, como por exemplo o acidente com o avião da Egyptair", que caiu no Mediterrâneo em maio.
– Mas não o fizeram, embora as autoridades egípcias tenham levantado a possibilidade de ser um ataque do grupo –, prosseguiu.
– Quando há uma reivindicação, na maioria dos casos, depois do comunicado, apresentam provas – fotos ou vídeos – que permitem estabelecer um vínculo entre o terrorista e a organização –, acrescentou Thomson.
Para Thomson, o caso de Nice "poderia ser similar ao de Magnanville", o assassinato em junho de um policial e sua companheira na residência do casal, na região parisiense.
O assassino do casal, o extremista Larossi Abballa, "minutos antes de passar à ação, pediu aos seus contatos do Facebook que prevenissem as brigadas midiáticas do EI".
A organização posteriormente reivindicou o ataque, cometido por um "combatente do Estado Islâmico".
Embora o atacante de Nice, Mohamed Lahuaiej Buhlel, não estivesse fichado pelos serviços de inteligência, seu perfil "não exclui que seja um jihadista", concluiu Thomson.