O ex-presidente do Egito Mohamed Mursi, derrubado e detido pelo exército no início de julho, denunciará ante a justiça as novas autoridades nomeadas pelos militares e pedirá a anulação do que considera um "golpe de Estado", anunciou nesta quarta-feira seu advogado.
O primeiro chefe de Estado eleito democraticamente no Egito está preso e sendo julgado por "incitação ao assassinato" de manifestantes contrários a seu governo em 2012.
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O governo interino dirigido de fato pelo exército lançou, por sua parte, em agosto uma violenta repressão contra os partidários de Mursi.
- O presidente prevê abrir um procedimento judicial contra o golpe de Estado (...) em um futuro próximo - declarou Mohamed al-Damati, chefe da equipe de advogados que visitou Mursi na prisão.
O advogado concluiu:
- Será apresentada uma denúncia ao procurador-geral para demonstrar que o que aconteceu foi um crime. Também serão apresentados recursos ante a justiça administrativa para cancelar a ação conduzida pelo general Abdel Fatah al-Sisi.
Al-Sisi, comandante-em-chefe do Exército, vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa, é considerado o novo homem-forte do regime.
Foi ele quem anunciou publicamente em 3 de julho a destituição e prisão de Mursi e confiou a um presidente e um governo interinos - que ele mesmo nomeou - a missão de revisar a Constituição e organizar eleições legislativas e presidenciais no início de 2014.
"O Egito não retornará à estabilidade sem a anulação deste golpe de Estado", assegurou Mursi em uma carta lida por al-Damati.
Ele também pediu a seus partidários que manifestam diariamente que permaneçam "firmes". "Eu agradeço ao povo que se revoltou já nas primeiras horas do golpe de Estado e que continua a se revoltar a cada dia em todo o país", concluiu.
Para justificar a destituição de Mursi, os militares evocaram as manifestações em 30 de junho que contaram com a participação de milhões de egípcios exigindo a saída do chefe de Estado, acusado por eles de concentrar os poderes em favor da Irmandade Muçulmana, confraria à qual pertence, e de querer islamizar a sociedade egípcia.
Desde então, o novo governo, mas sobretudo o general Al-Sisi, acusa a Irmandade Muçulmana de "terrorismo".
Em 14 de agosto, soldados e policiais dispersaram violentamente manifestações organizadas pelos partidários de Mursi no Cairo, matando centenas deles.
Ao todo, mais de mil manifestantes foram mortos desde o golpe.
Além disso, mais de 2 mil membros da Irmandade Muçulmana, que venceu com grande expressividade as eleições legislativas de 2011, foram presos em meados de agosto, incluindo quase todos os seus líderes.
Assim como o presidente deposto, os líderes da confraria também são acusados de envolvimento na morte de manifestantes anti-Mursi quando estavam no poder.
Na abertura de seu julgamento, em 4 de novembro, Mursi rejeitou a autoridade de seus juízes e insistiu ser ele o único presidente legítimo do país. A audiência foi adiada para 8 de janeiro.