Essa impressionante ilha vulcânica faz parte da lenda escocesa há mil anos, com seu perfil montanhoso decorando cédulas escocesas e imortalizada em um soneto de John Keats.
A ilha não tem moradores, eletricidade, água potável nem terras aráveis - aparentemente, nada de valor, se não fosse por isto: durante mais de um século, as pedreiras têm sido fonte de um microgranito distinto, à prova d'água, usado na fabricação da maioria das pedras de granito do mundo. Isso inclui todas aquelas usadas em campeonatos mundiais recentes e em cada Olimpíada desde 1924, incluindo os Jogos de Sochi, que começam em fevereiro.
No entanto, o módico lucro da exploração das preciosas pedreiras da ilha, com cepas de blue hone e common green, e um arrendamento concedido à Sociedade Real Britânica para a Proteção de Pássaros, tributou os recursos cada vez menores do proprietário, o oitavo marquês de Ailsa, cuja família é dona da ilha há 500 anos.
Assim como muitas famílias proprietárias de terras antigas britânicas, a família do marquês passou por décadas de limitação financeira, resultante dos impostos por herança. A família perdeu sua sede, Culzean Castle, para o Tesouro Nacional em 1945 e, em 2010 o atual marquês decidiu livrar-se de Ailsa Craig, colocando um preço inicial de US$ 4 milhões. Essa quantia, mais tarde, foi reduzida para 2,4 milhões e, enquanto as águas do Mar de Clyde batem na costa rochosa de Ailsa Craig todos os dias, pouca coisa mudou nos anos seguintes. A ilha permanece nebulosa, monumental e à venda.
Quando Keats viu a ilha pela primeira vez aparecendo a 335 metros céu acima perto da costa oeste da Escócia em 1818, ele voltou a uma pousada no continente e escreveu um soneto, à luz de velas, descrevendo a ilha como uma "pirâmide oceânica rochosa", vinda das profundezas através de poderes místicos, e com a presença eterna de águias e baleias. Quase 200 anos depois, com a Escócia se aproximando de um referendo sobre a independência da Grã-Bretanha em setembro, a ilha mantém-se como ícone na consciência nacional, impregnada de um caráter rústico e autônomo do qual muitos escoceses orgulham-se de ter como direito de nascença.
Em novembro, chegando através de 16 km de mar aberto brilhante a bordo de seu barco lobster boat, o M.V. Glorious, o capitão, Mark McCrindle, rompeu o silêncio da apertada cabine de controle para dizer que, em 30 anos trabalhando nas águas do porto próximo de Girvan, ele viu a ilha tão majestosa poucas vezes. - Sim, ela é uma beleza - . Você gostaria de tê-la? - Vinte mil libras é tudo que eu pagaria - , disse ele rapidamente completando: - O que eu faria com ela? -
Para achar um comprador será necessário mais do que poemas de Keats, ou "os sonhos" que o marquês, de 57 anos, diz que venderia a qualquer um que sonhe com uma ilha sem modernidades, nenhuma forma ativa de emprego desde que a mineração terminou em 1969, e apenas uma estrutura habitável entre as ruínas enfraquecidas e sem teto dos quartéis já usados por homens que trabalhavam no farol ou nas pedreiras.
Através dos séculos, os 89 hectares da ilha, a maior parte na forma de penhascos e samambaias que sobem a montanha, forneceu aos escoceses, e, às vezes, aos inimigos, uma fortaleza oceânica. Quase 1,2 km de ponta a ponta, a ilha serviu como reduto para repelir invasores espanhóis, um santuário para piratas e, pelos últimos 25 anos, uma área preservada para dezenas de milhares de aves marinhas de criação, especialmente, gansos e papagaios.
Então, não é surpresa saber que os corretores responsáveis contam com exageros ao comentar as atrações. - A única ilha a ganhar uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos! - , diz Farhad Vladi da companhia Vladi Private Islands, com sede em Hamburg. Ele alega ter vendido mais de 2 mil ilhas ao redor do mundo, muitas delas em lugares mais atraentes ou mais quentes do que o Mar de Clyde.
A medalha mencionada por Vladi, referia-se às pedras de curling usadas quando Rhona Martin, campeã escocesa que jogou o que ficou conhecida como a "pedra do destino" para ganhar a medalha de ouro feminina nos Jogos de Inverno em Salt Lake City em 2002. A vitória rendeu fogos de artifício em Edimburgo e Glasgow; foi a primeira vez que a Grã-Bretanha ganhou uma medalha de ouro em 18 anos.
Escoceses, e outras pessoas na Grã-Bretanha, esperam por uma repetição nas Olimpíadas de Sochi, e veem Ailsa Craig, ao menos metaforicamente, como um talismã. Duas mil toneladas de granito previamente extraído foram tiradas da ilha este ano por uma embarcação e usadas para serem cortadas, giradas e polidas em pedras Sochi na fábrica de Mauchline, a 40,2 km dali, em Aushire, que tem um contrato para fabricar as pedras Olímpicas.
Algumas dessas pedras irão escorregar gentilmente das mãos seguras da melhor esperança de medalha da Grã-Bretanha, o time feminino campeão mundial e sua capitã, de 23 anos, Eve Muirhead. As pedras, com formato de chaleira, serão feitas de granito esmaltado da Ailsa Craig, conhecido como common green, e ira deslizar até a "casa" ou alvo, em um ringue cuja base é feita do inimitável blue hone, cuja molécula estrutural apertada faz com que o gelo derretido não consiga penetrar.
Enquanto isso, o marquês, que perdeu uma perna devido à diabetes, espera por uma oferta no que ele chama de sua pedra. Durante um encontro em seu pub favorito, entre a agitação de agricultores castigados pelo tempo e velhos marinheiros com barbas espessas no velho mercado em Ayr, ele falou, sem muita emoção, sobre a possibilidade de desistir da ilha, o que os corretores dizem não atrair qualquer interesse real.
- Vai sair da família - , disse ele. - Mas, penso nisso da seguinte forma: não vai a lugar algum. Sempre estará ali e, na verdade, não importa quem seja o dono -
O mesmo desapego surgiu quando a conversa voltou-se para Ailsa Craig enquanto ícone esportivo. Com um dos outros títulos que herdou, o marquês, enquanto Lord Archibald Angus Charles Kennedy, presidente do Clan Kennedy, é convidado célebre nos Highland Games, jogos clássicos escoceses e em outras reuniões do clã na Escócia e Irlanda, como também, nos Estados Unidos, Canadá e outros pontos longínquos. Contudo, ele não sustenta uma paixão pelo caber toss, o shot put e, especialmente, pelo curling.
Com um sorriso e mais uma pitada de travessura, ele resumiu a atitude que tomou em relação ao esporte, que teria surgido nas lagoas congeladas da Escócia no século XVI.
- Ë o jogo mais entediante do mundo - , disse ele.
Curiosidade
Ilha de mais de mil anos está à venda na Escócia
Local é fonte de um tipo de granito cobiçado no mercado mundial, no entanto, donos não encontram compradores
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