O começo de temporada para dois times principais dessa nação que ama o beisebol foi posto em dúvida após ladrões roubarem grandes quantidades dos fios de cobre da iluminação do principal estádio da cidade. Itens básicos são sempre tão difíceis de encontrar que quando um caminhoneiro morreu ao volante após um acidente na estrada recentemente, saqueadores em suas motocicletas invadiram-no para apanhar a carga: toneladas de carne vermelha.
Os preços estão altos, e o país é atormentado por apagões elétricos, alguns bairros ficam sem água vários dias a fio e protestos complicam o já sufocante trânsito. Para completar tudo isso, a cerveja barata que ajuda o povo a relaxar em muitas festas de final de semana, de repente, tornou-se escassa também.
Quase sete meses após o falecimento de Hugo Chávez, a figura paterna e presidente esquerdista de longa data do país, existe cada vez mais a sensação de que as coisas estão desmoronando.
O novo presidente, Nicolás Maduro, ressuscitou um bode expiatório antigo dos males do país, acusando Washington e outros inimigos do governo de conspiração e de fazerem uma "guerra econômica" que submeteu o povo aos apagões, à escassez crônica e outros males. Pegando emprestado do roteiro de Chávez, Maduro expulsou daqui, em outubro, a principal diplomata americana, e dois outros funcionários da embaixada, argumentando que eles estavam conspirando para desestabilizar o país.
Porém, enquanto Chávez habilidosamente apresentava os Estados Unidos como um valentão imperialista e se lançava no papel do herói oprimido, muitos defensores de Chávez estão achando pouco convincente o esforço de Maduro de imitar o mentor.
- Esse é o maior erro que Chávez já cometeu - disse Axel Ortiz, de 20 anos, estudante, falando da escolha de Chávez por Maduro como sucessor. Ortiz se declara chavista - um defensor leal de Chávez - no entanto, questionou a capacidade de Maduro de resolver os problemas da nação.
- Chávez foi o único que era qualificado, o único que podia manter as coisas sob controle. -
Os problemas econômicos do país se agravaram. A inflação nos primeiros oito meses deste ano ficou em mais do que o triplo da taxa no mesmo período do ano passado. E quando medida por um período de 12 meses que terminou em agosto, ela ultrapassou 45%. Um indicador do governo que mede a escassez de produtos básicos está perto do nível máximo em mais de cinco anos.
Muitas lojas permitem que os clientes comprem apenas um número limitado de itens como fubá e óleo de cozinha. As pessoas se queixam de ter de ficar em uma fila por horas, geralmente em vão, e muitas estão perdendo a paciência com a explicação do governo de que conspiradores inescrupulosos são culpados pelos problemas da nação.
- O governo está recorrendo cada vez mais a ações e declarações ultrajantes e extravagantes para controlar a agenda - disse Andrés Cañizalez, professor de Comunicação da Universidade Católica de Andrés Bello.
Tudo isso seria muito para qualquer presidente novato lidar, porém o propenso a gafes Maduro sofreu críticas debilitantes por regularmente tropeçar nas palavras, suscitando sustos nos defensores e zombarias nos adversários. Quando ele caiu da bicicleta na TV ao vivo recentemente, o evento tornou-se uma metáfora para a presidência em dificuldades.
- As pessoas riem dele. Não queremos um presidente que é uma piada - declarou recentemente em uma manhã na favela de Terrazas del Alba no centro de Caracas, María López, de 32 anos, mãe de dois filhos. Ela votou em Maduro, e afirmou que ainda o apoia. Contudo, lutou contra um sorriso maroto quando perguntamos sobre seu acidente de bicicleta, que ocorreu durante um passeio para promover o movimento jovem do seu partido. As gafes se acumularam, assim como a comitiva de políticos e de guarda-costas que frearam abruptamente na confusão atrás da bicicleta caída do presidente.
Em um de seus mais infames deslizes verbais, em agosto, Maduro buscava fazer uma referência à história bíblica de Jesus multiplicando os pães e peixes - só que saiu da sua boca como a "multiplicação dos pênis". Maduro aparentemente misturou "peces" (peixe) e "panes" (pães) para produzir "penes" (pênis). Ele rapidamente se desculpou e se corrigiu, mas o dano já estava feito.
- Uma pessoa que não sabe falar nunca saberá como administrar um país - disse Jorge Flores, de 30 anos, mensageiro de um hospital estadual, que votou em Maduro e agora se arrepende de ter votado.
- Este é o pior governo que já vi. O melhor governo que já tivemos aqui foi o de Chávez - Flores declarou.
Maduro chama os seus críticos de elitistas, e uma vez ele afirmou que tinha falado errado de propósito para atrair os seus caluniadores.
Chávez, um socialista flamejante, tinha uma ligação tão forte com os venezuelanos comuns que eles frequentemente se recusavam culpá-lo por muitos dos problemas que continuam a atormentar o país. Maduro não tem o mesmo carisma, e pelo menos alguns dos seguidores de Chávez parecem estar se afastando dele.
- O governo faz estas coisas para nos distrair dos nossos problemas reais - afirmou Cristian Nivela, de 24 anos, um chavista leal que votou em Maduro, se referindo à expulsão dos diplomatas americanos.
Em outubro, Maduro usou uma transmissão especial em rede nacional para apresentar o que ele disse serem provas de que os diplomatas vinham conspirando com a direita extrema na Venezuela para desestabilizar o país.
Ele exibiu um vídeo, acompanhado por música assustadora, argumentando que a diplomata principal da Embaixada americana, Kelly Keiderling, e outros dois expulsos, tinham se encontrado nas semanas anteriores com autoridades eleitas - inclusive o governador do estado e um prefeito - que pertencem à oposição venezuelana. O vídeo também os exibiu deixando uma reunião no comitê de um grupo pró-democracia.
- Estas autoridades estão se reunindo, bem, de maneira descarada, e falando sobre greves, sabotagem, falando sobre questões domésticas da Venezuela, oferecendo verba - Maduro declarou.
Tais acusações têm repercussão aqui por causa da história de intervenção dos Estados Unidos na América Latina, inclusive o apoio tácito a golpe em 2002 que brevemente destituiu Chávez.
Uma funcionária do Departamento de Estado disse que as acusações eram absurdas.
- Nossos diplomatas fazem o que estão fazendo em todo o mundo. Eles estavam visitando partes do país e falando com todos os tipos de pessoas diferentes. Eles não estavam fazendo nada secreto ou fora do comum para diplomatas - declarou a funcionária, Roberta S. Jacobson, subsecretária de Estado para assuntos do Hemisfério Ocidental.
Ela disse que em resposta, os Estados Unidos estavam expulsando o diplomata principal venezuelano de Washington e dois outros funcionários da Embaixada venezuelana. Os Estados Unidos e a Venezuela não mantêm embaixadores em suas capitais mutuamente.
Tendo a contenda como fundo, as autoridades disseram que o estádio arrombado - lar dos Leões de Caracas e dos Tubarões de La Guaira, mais ou menos equivalente aos New York Yankees e aos New York Mets do beisebol venezuelano - estariam prontos para o início da temporada em 10 de outubro. Eles disseram que os funcionários tinham finalmente terminado os reparos do sistema de iluminação após ladrões roubarem a maioria da fiação, em um exemplo patente do crime, da corrupção e da desordem neste país.