O presidente francês François Hollande anunciou neste sábado que Leonarda, a estudante cigana expulsa para Kosovo, poderá voltar à França para continuar com seus estudos, se solicitar, mas só poderá fazê-lo sozinha, sem sua família. Hollande assegurou ter tomado esta decisão por uma questão humanitária, já que a expulsão da família cigana não violou qualquer lei. O presidente, no entanto, indicou que serão dadas instruções para que se proíba a prisão de imigrantes que estejam estudando.
O presidente baseou sua decisão no relatório do Ministério do Interior publicado este sábado que diz que a expulsão de Leonarda foi "conforme a legislação em vigor". No entanto, o texto destaca que as forças de ordem não tiveram "o discernimento necessário" para deter a adolescente durante uma excursão escolar.
Ao saber da declaração de Holland, Leonarda Dibrani, afirmou à AFP que não pretende voltar à França sem sua família.
- Não irei sozinha para a França, não abandonarei minha família. Não sou a única que quer ir ao colégio, também tem meus irmãos e irmãs - declarou Leonarda, de 15 anos.
O pai da adolescente, Resat Dibrani, considerou o relatório emitido pelo ministério "uma catástrofe".
- Até agora havia sido duro, mas isso é uma catástrofe. Não nos renderemos. Meus filhos estavam integrados na França, vamos continuar lutando porque aqui (em Kosovo), meus filhos são estrangeiros - declarou à AFP.
Na véspera, milhares de pessoas voltaram a se manifestar em várias cidades da França para reclamar a volta ao país da jovem cigana e outro imigrante sem documento que foram expulsos do país, uma decisão que divide o governo de esquerda.
A detenção em 9 de outubro, durante uma excursão escolar, de Leonarda Dibrani, desencadeou no país a polêmica sobre o tratamento dado a essa minoria na França e abalou a unidade nas fileiras do Partido Socialista, do presidente Hollande, que conta com os piores níveis de popularidade de um chefe de Estado francês desde 1996.
Além da jovem cigana, expulsa para o Kosovo, os estudantes exigem a volta à França de Khashik Kashatryan, um armênio de 19 anos deportado no sábado passado. O caso ganhou repercussão através das redes sociais, que se viram inundadas de mensagens contra o governo, em particular a respeito do ministro do Interior, Manuel Valls. Alvo de duros ataques, alguns membros do próprio partido acusam Valls, filho de imigrantes espanhóis, de fazer uma política de direita em termos migratórios.
Expulsa junto com o restante de sua família para Mitrovica, no Kosovo, Leonarda Dibrani deu inúmeras entrevistas à imprensa francesa para contar sua história e implorar que a deixem voltar para a escola na França. Resat Dibrani, de 47 anos, tem uma ficha criminal de delitos menores e violência doméstica.
Os professores do colégio onde Leonarda e uma de suas irmãs estudavam se declararam profundamente consternados com os métodos utilizados pelo governo para expulsar as crianças da comunidade cigana, levando-as para países estranhos a elas e com idiomas que não conhecem.