Famílias de luto pelo naufrágio do Concordia, sobreviventes e moradores da pequena ilha toscana de Giglio participaram neste domingo de uma jornada de lembrança repleta de emoção para "tratar as feridas" causadas pela tragédia que custou a vida de 32 pessoas há um ano.
Para Anne Decré, da associação dos náufragos franceses, Giglio organizou cerimônias "dignas" de seus moradores.
- Isso responde a uma necessidade das famílias das vítimas e daqueles que conseguiram se salvar. Esperamos que possamos estar sempre juntos como ficamos há um ano e como ficamos depois - declarou ela, desejando que este dia ajude a "tratar as feridas".
Durante a manhã, um ferry levou familiares das vítimas para o local onde o navio se chocou contra uma rocha. Eles jogaram coroas de flores no mar, enquanto as sirenes da Guarda Costeira foram acionadas 32 vezes.
- Estou aqui para homenagear minha irmã. Estar aqui é uma emoção muito forte, é como se eu a reencontrasse - disse à AFP Madelein Soria, uma peruana de 25 anos.
A irmã de Soria fazia parte da tripulação do navio. Susy Albertini, mãe da única criança vítima do naufrágio, sua filha de 5 anos, morta com seu pai, pediu que "justiça seja feita". Dez pessoas estão sendo investigadas pela tragédia, incluindo o capitão Francesco Schettino, considerado o principal responsável pelo naufrágio. O julgamento ainda deve levar alguns meses para começar.
Entrevistado por uma televisão italiana em Meta di Sorrento (sul), onde é mantido em prisão domiciliar, o capitão afirmou que "para o resto de sua vida, haverá alguma coisa que vai ligá-lo de forma muito pessoal a este evento e às famílias das vítimas". Ele atribuiu novamente a responsabilidade pelo naufrágio ao timoneiro indonésio:
- Se ele tivesse entendido as ordens, teríamos apenas passado pela costa da ilha e nada teria acontecido - afirmou.
Entre os oficiais que foram a Giglio estava o chefe da Capitania do porto de Livorno, considerado um herói por ter ordenado que o capitão do Concordia, Francesco Schettino, voltasse a bordo do transatlântico que este havia abandonado.
- Apenas cumpri o meu dever, não sou um herói. O que eu quero é ficar ao lado de todas as famílias das vítimas e de todos aqueles que sofreram - disse.
Uma grua em um rebocador reposicionou a rocha em seu lugar de origem, em um gesto simbólico para "colocar as coisas no lugar", segundo o prefeito Sergio Ortelli.
- Como esquecer os olhos das crianças encharcadas e assustadas naquela noite, as pessoas idosas se protegendo com cobertores? Para as famílias, a ferida ainda está aberta - disse o prefeito, lembrando também "a hospitalidade, o amparo, a solidariedade" da população.
Dezenas de pessoas resgatadas também viajaram à ilha para a homenagem.
- Viemos porque queríamos expressar o nosso reconhecimento, porque conseguimos sobreviver - disse à AFP Ronald Dots, um chileno que vive na Espanha, ao lado de sua esposa Viviana e de seu filho de 15 anos.
- Foi uma noite de muita dor, tivemos que ir a psicólogos, no início choramos muito. Quando ouço uma canção italiana, eu volto à noite do naufrágio. Olhar o mar me dá medo - explica.
Danièle Dubuc, de Pau (sul da França), também agradeceu aos moradores e ressaltou a necessidade de todos estarem juntos.
- Vivemos uma catástrofe enorme - acrescentou.
O Concordia partiu do porto italiano de Civitavecchia para um cruzeiro pelo Mediterrâneo com mais de 3.200 turistas de 60 nacionalidades e com mais de mil membros da tripulação provenientes de 40 países. O acidente aconteceu algumas horas depois da partida e deixou 30 mortos identificados. Os corpos de um membro indiano da tripulação e de uma passageira italiana não foram encontrados.
O marido desta, Elio Vicenzi, que estava muito emocionado para falar, ofereceu a Giglio uma estátua da Virgem Maria produzida em sua Sicília natal. Enquanto o irmão do indiano, Kevin Rebello, entregou às autoridades quatro leões símbolos de seu país e caracterizando poder, coragem, confiança e orgulho, "que também simbolizam Giglio", disse.
À tarde, placas foram inauguradas no porto, em homenagem às vítimas e aos moradores, ao som de uma música interpretada pela fanfarra da ilha diante das famílias reunidas no cais estreito, com um vento glacial. No momento do naufrágio, às 20h45 GMT (18h45 de Brasília), após um minuto de silêncio, as sirenes de todos os barcos presentes soarão no porto. Depois disso, 32 lanternas serão colocadas no mar.