Enquanto um desejo acalentado por uma geração de físicos se concretizava essa semana na Suíça - a descoberta do bóson de Higgs -, um professor porto-alegrense comemorava a realização de um sonho pessoal. Apaixonado por física desde o primeiro contato, Luciano Denardin, 34 anos, é um dos 30 brasileiros selecionados para um curso em agosto na Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (Cern), referência mundial em física nuclear, onde foi feita a descoberta. De Genebra, Denardin voltará abastecido com material para seus alunos da Faculdade de Física da PUCRS, do Colégio Monteiro Lobato e do Anglo Vestibulares. Leia trechos da entrevista:
ZH - Como será o curso no Cern?
Denardin - O curso envolve física de partículas, física nuclear e visitas aos laboratórios do Cern. Vamos conhecer, por exemplo, o acelerador de partículas onde foi detectado o bóson de Higgs (Partícula de Deus). Além da formação teórica, aprenderenis atividades para realizar com os alunos. Eles vão sugerir experiências para a sala de aula, que tipo de abordagem pode ser feita. A ideia é que antes de viajar eu dê aulas para os alunos sobre física nuclear, física de partículas e sobre que tipo de pesquisas são realizadas no Cern. Os alunos vão poder fazer perguntas, que eu vou repassar aos pesquisadores para dar retorno para os estudantes.
ZH - Qual a sua expectativa?
Denardin - A maior possível. Todo físico escuta falar do Cern, que é o laboratório mais importante. Pensar que poderei vivenciar isso e conviver com pesquisadores de renome é uma experiência única e significativa. Eles detectaram uma partícula que se procurava desde 1964, também trabalham em pesquisas sobre a origem do universo. É muito legal poder conhecer um lugar que dá respostas a muitas questões que sempre estiveram em aberto na comunidade científica.
ZH - Qual o desafio no ensino da física?
Denardin - Infelizmente, a física está muito associada à matemática. Na verdade, a física foi concebida para explicar os fenômenos da natureza: por que o arco-íris é curvo e colorido? Por que o céu é azul? Nas minhas aulas, abordo a teoria, é claro, mas sempre contextualizando com fenômenos da natureza e aplicações tecnológicas. Trabalho muitas atividades práticas e associo a física com situações do cotidiano. Procuro lecionar de maneira mais lúdica também, para o aluno não achar que é só matemática. Meu desafio é principalmente mostrar que a física é significativa, está no nosso dia a dia e na vida do aluno.