A situação na Síria se deteriora rapidamente e a crise provocou em certas regiões um "conflito armado não internacional", com a multiplicação da violência sectária, adverte um relatório da ONU divulgado nesta quarta-feira no Conselho de Direitos Humanos da organização.
O documento cobre o período de fevereiro a junho e foi elaborado pela comissão de investigação internacional independente presidida pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro.
A apresentação do relatório gerou um debate acalorado em Genebra. O representante sírio no Conselho, Faisal Jabbz Hamwi, abandonou a sala durante as discussões do documento, acusando o relatório do brasileiro de "tendencioso" e de apontar "mentiras".
- Não vamos participar nesta sessão de politização flagrante -disse Hamwi.
No relatório, os analistas denunciam uma "nova escalada da violência" desde maio de 2012. "A situação dos direitos humanos na Síria se deteriora rapidamente. Há flagrantes violações dos direitos humanos em um contexto de combates cada vez mais militarizados", afirma o relatório.
"Em algumas regiões, os combates têm as características de um conflito armado não internacional, apesar do aumento das deserções militares assim como do surgimento de certa fadiga entre as forças oficiais sírias", completa o documento.
O relatório denuncia ainda o aumento da violência, apesar da presença de observadores da ONU.
"Helicópteros de combate e artilharia foram utilizados no bombardeio de bairros inteiros considerados inimigos do governo, inclusive na presença dos observadores, como em Deir Ezzor e Aleppo em maio de 2012".
Responsabilidade do governo
em massacre de Houla
Também apresentam um balanço do massacre de Houla, apesar dos especialistas terem sido impedidos de visitar o local.
Após meses de espera, Pinheiro visitou a Síria de 23 a 25 de junho, mas não foi autorizado a entrar em Houla, onde 108 pessoas morreram em 25 de maio.
Segundo os especialistas, há indícios para se suspeitar que o governo sírio seja o principal responsável por grande parte das mortes. Não descarta, no entanto, envolvimento das principais partes no conflito: além das forças governamentais, como agentes de inteligência, os shabihas (milícias favoráveis ao regime), a oposição e grupos estrangeiros de oposição.