Atenas, Grécia - Não é fácil ser um membro da Guarda Presidencial da Grécia, os soldados que, usando impecáveis uniformes, ficam imóveis no Túmulo do Soldado Desconhecido. Pés congelados, sobrancelhas suadas e a curiosidade das crianças - que cutucam e chutam os guardas para conferir se eles estão realmente vivos - são apenas alguns dos perigos.
Ultimamente, porém, as coisas ficaram bem mais complicadas.
O túmulo fica bem em frente ao Parlamento, na Praça Sintagma - ponto central das muitas revoltas que surgiram desde que a Grécia começou a impor medidas de austeridade.
Ao longo do último ano, manifestantes enfrentaram diversas vezes os policiais de choque, muitas vezes a alguns metros dos guardas - que só podem se mover uma vez a cada 30 minutos, e apenas para realizar alguns passos cerimoniais. Até mesmo os guardas do Palácio de Buckingham se movem mais do que isso, fazendo pausas a cada 10 minutos.
Às vezes, os soldados daqui conseguem prosseguir com sua rotina durante os confrontos, levantando seus tamancos pretos com pompons a cada meia hora e oferecendo uma estranha cena de normalidade - logo atrás das rebeliões e da fileira de policiais da tropa de choque, vestidos de preto e empunhando cassetetes.
Em alguns dias, porém, o arremesso de pedras foi um pouco exagerado, e os soldados - um em cada lado do túmulo, que homenageia soldados que tombaram em guerras antigas - se afastaram. O tenente-coronel Petros Miliopoulos, oficial encarregado do batalhão, vem guardando uma pilha de recortes de jornal, muitos com fotografias na primeira página dos guardas cercados pelo caos.
Em outubro, manifestantes chegaram a atear fogo numa das guaritas dos guardas ao lado do túmulo.
Mas alguns dos guardas, como o recruta George Matellas, de 24 anos, que já passou 135 horas parado em pé (os homens mantêm uma contagem cuidadosa), dizem que os agitadores parecem sair de seu caminho para não os incomodar - talvez valorizando a longa tradição do serviço militar grego que eles representam.
- Quando estamos marchando de volta aos alojamentos, eles abrem caminho para nós - explicou Matellas. - A maioria da multidão nos apoia, o que é uma boa sensação.
O gás lacrimogêneo é um dos grandes problemas. Os policiais de choque usam máscaras de gás. Mas os guardas presidenciais usam uniformes com túnicas e saiotes que remontam ao século XIX. Foi realizada uma pequena concessão quanto a medicamentos modernos, o que geralmente não é o bastante para protegê-los.
- Nós lhes damos colírio - afirmou Miliopoulos. - Isso ajuda um pouco.
Na Grécia, todos os homens jovens devem cumprir de nove a 12 meses de serviço militar, e os membros da Guarda Presidencial são escolhidos entre os recrutas. A aparência é importante. Os soldados precisam ter pouco mais de 1,80 metro de altura e estar em forma.
Segundo Miliopoulos, um recruta deve também possuir um forte senso de patriotismo. É isso que sustenta os soldados num clima por vezes brutal. No verão, o calor pode ultrapassar os 40 graus - e eles continuam usando duas camadas de meias. No inverno, é comum a temperatura ficar abaixo de zero - mas as luvas só aparecem quando se chega a 7 graus negativos.
Mesmo em condições perfeitas já é difícil ficar de pé, parado, por uma hora, garantiu Miliopoulos. - Tente fazer isso - sugeriu ele. - Ficar sem se mover por 10 minutos já é difícil.
Mesmo assim, fazer parte da Guarda Presidencial é considerado uma honra - e traz algumas vantagens. Para começar, o batalhão fica situado no meio de Atenas. Para muitos jovens soldados, isso é muito mais agradável do que ser enviado para alguma remota fronteira da Grécia com a Turquia, por exemplo.
Matellas contou que seu método para completar os turnos no túmulo era fixar a atenção num ponto e se concentrar. Mas disse também que, às vezes, os manifestantes eram uma distração bem-vinda.
- Quando há algo acontecendo, o tempo passa mais rápido - explicou.
Os guardas possuem diversos uniformes para escolher, dependendo do clima e da ocasião. A túnica de verão data da revolta contra o Império Otomano, em 1821. O uniforme naval vem de um levante na Macedônia Grega no início do século XX, quando a região ainda era ocupada pelos turcos.
Os soldados se vestem em duplas, ajustando cuidadosamente os trajes um do outro - os dois saiotes de algodão, os casacos bordados, as ligas de couro, a franja azul e branca acima das saias, os ornamentos na panturrilha para o uniforme de gala.
Acertar em tudo é importante. Segundo Matellas, seu pior momento até agora foi quando ele realizava um de seus chutes altos e o pompom de seu tamanco saiu voando.
Na base dos guardas, profissionais habilidosos produzem os uniformes, tentando fazer cada item exatamente como ele era feito décadas atrás.
- Aqui, as mudanças são muito, muito raras - afirmou Miliopoulos. - Elas só ocorrem quando há algum problema técnico que não conseguimos resolver.
As meias, por exemplo, eram produzidas num tipo de máquina que já não existe mais. Mas seria preciso uma lente de aumento para notar a diferença.
Cada uniforme de gala custa cerca de US$ 11.200. Os soldados não ficam com eles.
Os guardas treinam por cinco semanas, praticando a postura fixa com todo o peso dos uniformes e visitando locais históricos para reforçar o sentimento de sua cultura. Algumas das sessões de prática duram três horas, embora no túmulo os guardas trabalhem em turnos de uma hora.
- Depois de três horas, uma hora não é nada. - disse o recruta Papiotis Evangelos, de 24 anos (e 120 horas parado em pé).
Os soldados montam guarda no Túmulo do Soldado Desconhecido, em frente ao Palácio Presidencial - e, aos domingos e feriados oficiais, hasteiam a bandeira sobre a Acrópole.
Mas na maior parte do tempo, segundo os próprios soldados, eles são apenas adereços para fotos de turistas.
- Entramos na internet e vemos fotos nossas o tempo todo - disse o recruta Theofannis Faitas, de 26 anos e 135 horas em pé. - Existem milhares de fotos nossas.