Passado um ano do terremoto de 9 graus na escala Richter seguido do tsunami que varreu cidades no litoral nordeste e provocou o maior acidente nuclear depois de Chernobyl, a capacidade de reconstrução do Japão impressiona. Fotógrafos que voltaram a locais devastados pela tragédia registraram cenários completamente diferentes.
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O mérito deste trabalho é outorgado aos próprios japoneses. Como voluntários, eles foram responsáveis por limpar grande parte das áreas, reerguer casas, montar grupos de assistência aos atingidos pela radiação e não permitir que as vítimas do desastre caiam no esquecimento. Arte-terapeuta porto-alegrense que frequenta as áreas devastadas, Élida Maria Matsumoto conta que a estimativa, no Japão, é de que 80% do trabalho tenha sido realizado por voluntários.
Quem coloca a mão na massa são as ONGs locais, afirmou um funcionário de uma entidade de ajuda de Rikuzentakata, à revista The Economist.
- O governo não faz o trabalho - lamenta.
Apesar de queixas de ONGs sobre a reação governamental à catástrofe, a aprovação de quatro pacotes de reconstrução, com um total de 20,5 trilhões de ienes (R$ 469 bilhões) mostra o tamanho do investimento estatal. Somado à construção de alojamentos temporários, é um dos argumentos do primeiro-ministro Yoshihiko Noda para provar que o Estado "arregaçou as mangas". Mas ele reconhece que gravita entre a população um sentimento de que a resposta oficial tem sido lenta.
A agência de resconstrução, que coordena como os ministérios gastam o dinheiro para reeguer as cidades, só abriu as portas em fevereiro - 11 meses depois do desastre. Na quarta-feira, a Cruz Vermelha japonesa afirmou que o ano foi perdido na reconstrução das áreas devastadas porque o governo central e as autoridades locais não chegaram a um acordo sobre um plano-mestre.
Um dos personagens da tragédia, Yuko Sugimotom, foi retratada dois dias após o tsunami, envolta em um cobertor, com o olhar perdido em meio às ruínas do bairro onde morava em Ishinomaki, na prefeitura de Miyagi: procurava o filho desaparecido. Em 27 de janeiro deste ano, posou no mesmo cenário, agora sem resquício de entulho, e com Raito, cinco anos.
Apesar do engajamento dos japoneses, ainda há muito a ser feito. O tsunami deixou cerca de 22 milhões de toneladas de escombros nos três municípios mais afetados (Miyagi, Iwate, Fukushima), mas apenas 6% do entulho foi permanentemente eliminado. Grandes montanhas de detritos estão depositadas na costa.
Além da destruição, moradores de áreas ao redor da usina de Fukushima convivem com a radiação, um inimigo invisível que poderá levar décadas para ser revelado. Outra sequela do acidente nuclear provocado pelo tsunami parece ser a rejeição profunda da população à energia atômica, área em que o Japão é um dos pioneiros. Dos 54 reatores do país, apenas dois estão funcionando. O último reator está programado para ser desligado no início de abril.