A Polícia Civil concluiu a investigação da Operação Torre Negra, que tem como alvo o M.Grupo, empresa que prometeu construir mas deixou inacabadas obras de um apart-hotel de 17 andares em Porto Alegre e de três prédios residenciais e outros três comerciais em Gravataí, na Região Metropolitana.
A história dos golpes que fizeram centenas de vítimas — que pagaram, mas não receberam os imóveis — foi revelada pelo Grupo de Investigação da RBS (GDI) em 2017. Conforme GaúchaZH apurou, Lorival Rodrigues, sócio do grupo e apontado na apuração como principal articulador dos crimes, foi indiciado por organização criminosa e estelionato praticados em pelo menos 257 ocasiões.
A investigação foi feita pela 1ª Delegacia de Combate à Corrupção, que não revela detalhes do caso. GaúchaZH verificou que, além de Lorival, foram indiciados também por organização criminosa e estelionato um filho dele, Cyro Santiago Rodrigues, e duas funcionárias do grupo: Márcia Anita Acordi e Norma Bottosso. Em caso de condenação, a pena para estelionato é de um a cinco anos e para organização criminosa, de três a oito anos.
Entre as obras inacabadas, está o Majestic Business Tower, lançado em Gravataí, que deveria ser o mais alto edifício do Estado, com 42 andares, mas jamais saiu do chão. Em 2017, o GDI revelou o perfil de Lorival e o rastro de prejuízos que teria sido deixado pelo grupo, que liderava um conjunto de mais de cem empresas.
Um ano depois, a polícia deflagrou a Operação Torre Negra, fazendo buscas em endereços do grupo a fim de coletar documentos que pudessem ajudar a comprovar as suspeitas. Em um apartamento de Lorival, em São Paulo, policiais encontraram um cheque de R$ 200 milhões. Peritos foram nomeados para analisar as informações contidas em mídias eletrônicas apreendidas.
GaúchaZH apurou que, no inquérito conduzido pele delegado Max Otto Ritter, foram ouvidas dezenas de testemunhas, entre funcionários das empresas investigadas e pessoas que compraram imóveis e se tornaram vítimas dos golpes.
Conforme compradores, unidades imobiliárias comercializadas teriam sido hipotecadas ou dadas em garantia por alienação fiduciária, pelo M.Grupo, a instituições bancárias sem que os proprietários soubessem. Segundo a investigação, os valores obtidos pelo M.Grupo dos clientes e de bancos não tiveram destinação para as obras. Teriam sido usados para benefício próprio dos sócios.
Uma das empresas mantidas pelo M.Grupo firmou contrato com o Banco do Brasil para a construção do empreendimento Residencial Jardins do Shopping, em 2012. Em 2014, depois de ter recebido R$ 12 milhões, o grupo paralisou as obras. O detalhe é quando firmaram o contrato com o banco, Lorival e o filho Cyro teriam dado como garantia imóveis vendidos a clientes, muitos dos quais já pagos.
A investigação apurou que Lorival e o filho Cyro seriam os articuladores do esquema, sendo os responsáveis por firmar os contratos de venda dos imóveis. Também foi apurado o suposto envolvimento nos negócios sob suspeita de de Márcia, como diretora financeira, e de Norma, como assessora jurídica do grupo.
O advogado Flávio Luz representa duas associações de pessoas que compraram imóveis do grupo: um apart-hotel na Capital e um prédio em Gravataí. São cerca de 300 vítimas. Segundo Luz, os adquirentes conseguiram tomar posse dos imóveis, por meio da Justiça, e se uniram para contratar empreiteiras que concluíssem as obras. Também gastaram com a regularização fiscal dos imóveis.
— Há uma indignação generalizada, pois a maioria dos adquirentes havia pago 100% do valor dos imóveis antecipadamente. Seguimos aguardando o desfecho da investigação na Justiça — diz Luz.
Contrapontos
O que diz Diego Romero, advogado de Lorival Rodrigues e Cyro Rodrigues
"Não há ato fraudulento praticado por eles, foi uma questão econômica e financeira que aconteceu com o grupo e levou a esse problema. O grupo sempre tentou fazer o ressarcimento das pessoas, e ainda se busca esta providência. Sobre o que tramita em sede policial, sempre buscamos informações para tomar providências e auxiliar."
O que diz Márcia Anita Acordi
GaúchaZH enviou recado por intermédio de um advogado, mas até a publicação não obteve retorno.
O que diz Norma Bottosso
GaúchaZH enviou e-mail, mas não obteve retorno.