
Após a troca de governo, a prefeitura de São Leopoldo rompeu convênios com projetos que ofereciam atividades esportivas e culturais no contraturno escolar a mais de 300 crianças no município. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, a medida foi tomada porque a nova gestão está fazendo uma revisão de contratos.
A prefeitura cortou o repasse de verbas para três projetos desenvolvidos na cidade:
- Escolinha do Clube Esportivo Aimoré, que oferecia aulas de futebol a 200 crianças
- Projeto Social do São Leo Open, que disponibilizava aulas de tênis a 120 alunos.
- Associação dos Gaúchos Acampados no Parque (Agap), que promovia atividades tradicionalistas em escolas.
Ao todo, a prefeitura repassava R$ 900 mil anuais para os três projetos. O Aimoré recebia o repasse anual de R$ 420 mil enquanto a Agap e a Associação Leopoldense de Esporte e Cultura (Alec), responsável pelo Projeto Social do São Leo Open, recebiam R$ 240 mil cada.
Segundo o vice-presidente de Gestão, Comunicação e Marketing do Clube Esportivo Aimoré, José Carlos Ferreira Júnior, a decisão foi informada ao clube pela Secretaria Municipal de Educação (Smed) na última quinta-feira (20).
A parceria, firmada em novembro de 2023, proporcionava atividades esportivas orientadas por profissionais do clube aos alunos. Com a rescisão do contrato, o Índio Capilé deixa de receber o repasse mensal de R$ 35 mil do poder público, o que inviabilizará a manutenção das atividades.
Na quarta-feira (26), o clube leopoldense completou 89 anos de fundação. O vice-presidente diz que a agremiação ainda espera que a prefeitura possa rever a decisão de encerrar o convênio ou que alguma empresa adote o projeto.
— O Aimoré está na divisão de acesso. A competição inicia daqui a 30 dias, então, a gente já tem um planejamento extremamente apertado. No convênio estavam previstas as aulas para as crianças, lanches, além dos professores, e também tem ajuda no custo de manutenção do estádio. Agora temos que nos readequar aqui — pontua.
Aulas de tênis e inclusão
Ferreira também é o diretor do São Leo Open de Tênis, um torneio de nível ATP Challenger 80, que é um dos maiores do Brasil e da América do Sul. Iniciada em 2003, a competição ocorreu até 2012 na cidade do Vale do Sinos e foi interrompida. Após um hiato de 10 anos, em 2022 o campeonato voltou a ser realizado no município.
A contrapartida do repasse de R$ 240 mil recebidos da prefeitura era a oferta de aulas gratuitas para as crianças. Com o fim do convênio, entretanto, além da interrupção das aulas, a edição de 2025 do torneio também se torna inviável.
Ferreira explica que o valor recebido da prefeitura representa cerca de 10% do custo total do evento, que também recebe aporte da iniciativa privada. Contudo, sem essa verba, o clube não tem condições de realizar o evento.
O diretor diz que há outros municípios interessados em sediar o torneio, mas que a intenção dele é manter a competição na cidade. Ele frisa que os jogos atraem turistas e movimentam a economia da cidade, além de colocar São Leopoldo no radar nacional do esporte.
— Tu tira uma criança de um bairro extremamente pobre e bota ela pra ter aula de tênis dentro do São Leopoldo Tênis Clube, tu muda a perspectiva de vida dela, né? Muda a autoestima. Tu faz ela conviver durante uma semana com o João Fonseca, como aconteceu há dois anos atrás. As crianças faziam fila de autógrafo pro João, pro Thiago Wild e o Thiago Monteiro. E aí tu tira isso de uma hora pra outra — sublinha.
Tradicionalismo
O presidente da Associação dos Gaúchos Acampados no Parque (Agap), João Batista Ribeiro, explica que a entidade existe há 10 anos e que o projeto, iniciado em 2023, tinha como objetivo levar a cultura dos CTGs para as escolas. Além disso, a Agap promovia a visitação das crianças ao Acampamento Farroupilha do Parque do Trabalhador, o maior de São Leopoldo.
— Em 2024, montamos 40 galpões no Parque do Trabalhador. Em 2023, atendemos duas mil crianças. Ficamos surpresos com o fim do convênio na troca de governo, mas eu tenho certeza de que alguma coisa boa vai surgir mais para frente — comenta, otimista.
Novo projeto da prefeitura
O secretário municipal de Educação, Jéferson Falcão, diz que todas as crianças atendidas nesses projetos serão contempladas no Programa Mais Educa São Léo, projeto de contraturno escolar do município. As atividades estão previstas para iniciar na próxima segunda-feira (31), atendendo as 36 escolas municipais.
— Quando assumimos a pasta, temos o dever, como gestor, de fazer a revisão de todos os contratos e convênios. É isso que estamos fazendo. Assim realizamos uma readequação para ampliar o atendimento no contraturno escolar. Além do futebol ofereceremos futsal, vôlei, beach tênis, canoagem, música, artes visuais, fotografia, grafitagem, cinema, tênis de mesa e tecnologia — diz Falcão.
Segundo o titular da pasta, a prefeitura está reavaliando todos os convênios.
— Ainda é cedo para dizer se há possibilidade de retomada. Por esse motivo, imediatamente iremos contemplar as crianças que são atendidas nesses três projetos — conclui.