A elevação no número de pessoas mortas no trânsito no Estado neste ano coloca em alerta as autoridades. De janeiro a setembro, 1.257 morreram no Rio Grande do Sul, vítimas de acidentes. O aumento é de 7,9% no comparativo com o mesmo período do ano passado. Os dados são do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RS).
A expectativa de quem atua no controle e fiscalização era de que este ano apresentasse redução no número de acidentes. Isso em razão dos meses em que houve menor circulação de pessoas nas vias do Estado, por conta das inundações que atingiram o RS entre abril e maio. No entanto, isso não se confirmou, e o cenário gera preocupação.
Se no período das enchentes, o Estado se manteve em queda ou manutenção, nos meses seguintes esses números entraram em elevação. Somente nas rodovias federais, por exemplo, houve salto nas mortes nos meses de junho e julho — neste último o número dobrou de 19 para 38 mortos.
Os dados mais atualizados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) demonstram que, de janeiro a outubro deste ano, houve aumento de 14% nas mortes no trânsito nas vias da União no Estado. Foram 289 mortes em 2024 e 253 em 2023.
— Para nós, é inconcebível ter esse aumento no número de mortes, sendo que tivemos esse período das questões climáticas. Chama a atenção que tivemos alguns acidentes com muitas vítimas fatais. Em apenas um deles, morreram seis pessoas — afirma Douglas Paveck Bomfim, da Comunicação Social da PRF.
O acidente citado ocorreu em julho deste ano, na BR-471, em Rio Pardo, no Vale do Rio Pardo. A colisão envolveu dois carros e um caminhão. Todas as seis vítimas mortas estavam no mesmo veículo, um Palio, do município de Passo do Sobrado.
Na manhã desta quinta-feira (14), três pessoas morreram num acidente na BR-285, em São Luiz Gonzaga, no Noroeste. Entre elas, estava um menino de três anos, que chegou a ser socorrido, mas não resistiu e morreu no hospital. Segundo a PRF, o acidente envolveu um Polo, de Santo Ângelo, e uma Strada, de São Luiz Gonzaga.
Vias estaduais
Nas rodovias estaduais, segundo as estatísticas do Detran-RS, o aumento é ainda maior. Ao menos, 398 pessoas perderam a vida em acidentes de trânsito, aumento de 24% em relação ao mesmo período do ano passado.
— Estamos tentando compreender esse fenômeno de elevação dos acidentes e com medidas para tentar conter. Tínhamos a impressão de que depois das enchentes isso não aconteceria. Esse fim de semana, que é feriado, nos preocupa. Estamos atuando tanto na fiscalização das rodovias, como na orientação dos condutores, para tentar preservar a vida das pessoas que fazem uso das rodovias — diz o coronel André Stein, que está à frente do Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) no Estado.
Segundo o comandante, em razão dos danos provocados nas rodovias, durante o período das enchentes, o efetivo tem ficado bastante atento para possíveis deteriorações e pontos de risco, que possam causar algum tipo de acidente.
Fiscalização e conscientização
Na quarta-feira (13), o Detran-RS retomou a campanha educativa Viagem Segura, com alertas sobre os fatores de risco para acidentes. A iniciativa faz parte da operação integrada. Equipes da autarquia e de municípios parceiros estão realizando blitzes da Balada Segura nas noites e nas madrugadas, com o objetivo de coibir o consumo de álcool por motoristas.
Também integram a operação a PRF, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), o CRBM, a Empresa Pública de Transporte e Circulação de Porto Alegre (EPTC) e o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer). As ações vão se estender pelos próximos meses, e buscam reforçar a fiscalização e conscientizar os motoristas sobre os riscos no trânsito.
Os comportamentos considerados de maior perigo são a falta de uso do cinto de segurança, o excesso de velocidade, a ultrapassagem em locais proibidos e a combinação de álcool e direção. Segundo o Detran-RS, todas as instituições envolvidas na operação registraram aumento preocupante nas estatísticas de feridos e de óbitos em suas áreas de atuação.
Entre as medidas que estão sendo adotadas, está o reforço na fiscalização, especialmente nos trechos e horários que ocorre a maior parte dos acidentes. A PRF pretende adiantar a largada da operação realizada nas estradas durante o verão — o início estava previsto para 18 de dezembro, mas uma nova data é estudada.
— O nosso grande desafio é sensibilizar as pessoas. Os números estão muito altos. Não podemos normalizar isso. Muito disso passa pelo comportamento dos motoristas. Não temos como ter um policial rodoviário, um brigadiano, um agente de trânsito em casa esquina. Se a pessoa dirigir de forma inadequada, pode se acidentar em qualquer momento. Precisamos contar com o apoio da população — afirma Bomfim.
Pontos de maior risco
Nas rodovias federais, o trecho mais crítico para o registro de acidentes graves – com vítimas feridas ou mortas – se dá na BR-116, entre Canoas e São Leopoldo. Segundo a PRF, um dos motivos é o alto fluxo de veículos neste percurso. Nas rodovias estaduais, destacam-se a RS-239, que corta o Vale do Sinos e faz a ligação com o Vale do Paranhana, e a RS-122, que liga a Região Metropolitana à Serra, são vias com maior incidência de acidentes graves.
Na Capital
De janeiro a outubro deste ano, Porto Alegre registrou 69 mortes no trânsito, das quais 31 decorreram de acidentes envolvendo motociclistas. Ao todo, foram 11.869 acidentes, sendo que 4.644 deles tiveram vítimas, resultado em 5.489 feridos. Quatro cruzamentos da Avenida Ipiranga (Salvador França, Silva Só, São Manoel e João Pessoa) são os pontos com maior incidência de acidentes.
Mortos no trânsito no RS
Dados de janeiro a setembro de cada ano
Vítimas mortas
- 2023 1.165
- 2024 1.257 + 7,9%
Acidentes com morte
- 2023 1.049
- 2024 1.149 + 9,5%
Fonte: Detran-RS