Há um odor forte vindo da água de cor barrenta, lodosa e cheia de detritos que alaga muitas partes da Região Metropolitana. O mau cheiro, que pode ser sentido até mesmo em áreas secas, porém próximas aos alagamentos, preocupa. E a situação não se resolverá tão cedo, alertam especialistas.
Diretor do Instituto de Meio Ambiente da PUCRS, Nelson Fontoura destaca que o odor só passará quando o solo estiver completamente seco, após a água ser completamente drenada ou evaporar. Isso porque o líquido contém uma quantidade elevada de sedimentos finos, como argila — que também explica a cor alaranjada da enchente e a presença de lama após o nível da água baixar.
Tais sedimentos, que podem ser também matéria orgânica presente naturalmente no solo ou o esgoto diluído das residências, acabam transformando o odor da água.
— Com o sol, desenvolve cianobactérias. Onde empoça, inclusive, piora, pois não há renovação da água — explica Fontoura. —Há também a contaminação por coliformes fecais, que acontece de forma generalizada, mas, com a exposição do solo aos raios ultravioletas do sol, que funciona como agente de esterilização, a situação pode normalizar.
A Presidente da Fundação Gaia, bióloga Lara Lutzemberger, acrescenta que o odor pode ser consequência de alimentos carregados pelas cheias, assim como animais mortos.
— Esse mau cheiro é apenas mais um dos desafios que surgem com a enchente diluviana. É a consequência da matéria orgânica que se acumula nas águas. São animais mortos, alimentos que foram carregados pelas águas. Eu acredito que para resolvermos isso só a partir do momento que as águas baixarem e se possibilitar o recolhimento (dos sedimentos). Até lá, é preciso evacuar essas áreas.
Professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS, Gino Gehling lembra ainda que há resíduos sólidos de residências no meio das inundações.
— Se as águas pluviais (dos rios) invadiram a rede de esgoto sanitário, em um ponto em que o esgoto pressurizado escapa para a superfície, o odor também escapa. Há também restos de alimentos e lixo das casas. Quem na hora de evacuar pensou em tirar o lixo?
Gehling também alerta que todos os ambientes que tiveram contato com a água da enchente, precisão de cuidados extras na hora da limpeza:
— Uma vez que uma casa não mais esteja alagada, ela precisará ser lavada com água sanitária em uma diluição adequada, nas paredes e superfícies, para desinfecção.
A preocupação também é para o desafio ambiental, já que esse material orgânico será levado para a Lagoa dos Patos e para o Atlântico.
O nível do Guaíba, medido no início da tarde desta quinta-feira (9), em Porto Alegre, é de 4,92 metros. A água toma conta ainda de até dois andares de edificações na Região Metropolitana e não há previsão exata de quando a situação retornará ao normal.