A semana é de resgates incessantes de isolados pela enchente em Venâncio Aires. O município, situado entre os vales do Rio Pardo e Taquari, é um dos principais produtores de fumo do mundo e tem mais de 500 pessoas desabrigadas pelas chuvaradas que arrasaram o Rio Grande do Sul. Um casal de idosos, residentes na área rural, morreu afogado e seus corpos foram encontrados por bombeiros na manhã deste sábado (4). Estavam numa residência de dois andares, situada numa várzea, que submergiu pela força das águas.
GZH não publica os nomes das vítimas porque eles ainda não foram contabilizados oficialmente na lista do governo estadual e muitos familiares não foram avisados. O homem, um agricultor de 75 anos, relutou em sair da residência porque sua mulher, de 72 anos, era cadeirante e evacuar o imóvel ia requerer muito esforço. Pesaram também razões emocionais, descreve um filho do casal, que reconheceu os corpos nesta manhã.
— Quando as águas estavam avançando eu ainda fui lá, mas não consegui convencer eles a deixarem a casa, onde passaram a vida toda — descreve o filho, inconformado.
Os bombeiros tinham esperança de encontrar o casal com vida, mas quando chegaram, a casa estava totalmente submersa e os corpos, presos dentro. O duplo afogamento aconteceu na Vila Zeca, no distrito de Mariante, próximo à RS 287, principal ligação de Venâncio Aires com a capital gaúcha.
Vias de acesso bloqueadas em Venâncio Aires
A RS-287 está intransitável em dois pontos de Venâncio Aires. Num deles, uma ponte sobre o rio Taquari está submersa. Em outro ponto, cinco quilômetros distante dali, uma várzea de arroz foi inundada pela força das águas, que romperam o talude da rodovia, despedaçando a estrada. Um novo rio se criou na baixada, em resumo. Sem falar em crateras abertas pela força da chuva. Filas de veículos se formam na tentativa de encontrar caminhos alternativos para a Capital.
Venâncio Aires tem suas principais vias de acesso bloqueadas. Além da RS-287, despedaçada em dois pontos, outra artéria viária importante no município é a RS-453, que liga a Lajeado, principal cidade do Vale do Taquari. Só que a própria Lajeado está isolada pelas águas. Resta a ligação com Santa Cruz do Sul, que também está ilhada. Situação dramática para toda a região, em resumo.
Além de isolada em relação às principais cidades da região, Venâncio Aires contabiliza centenas de desabrigados, levados para ginásios municipais. E dezenas de ilhados. Só na tarde de sexta-feira (3), 40 pessoas isoladas em telhados de propriedades rurais foram resgatadas de barco. O repórter fotográfico Jonathan Heckler, de GZH, acompanhou buscas pelo rio, na manhã deste sábado (4). Foi de barco e, no percurso, resgataram dois cães que flutuavam nas águas. Dezenas de outros esperavam socorro em telhados de casas submersas.
Esse tipo de missão é feita por bombeiros civis como Julio Vargas e Daniel Chaves, que passaram a semana fazendo resgates. Contam com ajuda de voluntários, como o jipeiro Maximiliano Alves Alexandre, que veio de Porto Alegre para ajudar os flagelados no Vale do Rio Pardo e agora não consegue voltar à Capital.
— O combustível tá acabando também, mas não vamos reclamar. A situação desses moradores é muito pior que a nossa — conforma-se Maximiliano.