Pressionada pela demora na manutenção e reparo das redes elétricas nos últimos temporais, a CEEE Equatorial está ampliando a ação de suas terceirizadas. Agora, além da empresa Setup, a Conecta Empreendimentos também atua nas operações de rua para a concessionária.
Sediada em São Paulo e com mais de 2 mil colaboradores, a Conecta já prestou serviços para a RGE, a RGE Sul e desde 2021 vinha sendo responsável pelas obras na área de cobertura da CEEE Equatorial. Eventualmente, em casos emergenciais, deslocava técnicos para trabalhar em restabelecimento de energia.
Agora, a empresa começa assumindo parte da operação na zona sul do Estado, região onde a distribuidora enfrenta problemas crônicos. Consumidores chegaram a ficar 132 horas sem luz na região após o temporal de quinta-feira (21) passada.
A transição começou em novembro e foi ampliada nas últimas semanas. Com base regional em Pelotas, a Conecta vem contratando cerca de 300 eletricistas com o objetivo de montar 86 equipes leves, formadas por dois técnicos (mais um de sobreaviso) em uma caminhonete.
Nos últimos três anos, a Setup jamais conseguiu atuar com esse plantel no sul do Estado, contando com cerca de 40 equipes na região. Principal terceirizada da CEEE, a Setup enfrenta insatisfação entre os executivos da companhia não só pelo número reduzido de equipes como pelas falhas na operação.
Com sede em Santa Catarina, a empresa está sob investigação do Ministério Público do Trabalho (MPT) depois que três funcionários morreram a serviço da CEEE em 2023. A empresa foi recordista em mortes sequenciais por acidentes de trabalho no território gaúcho em 2023.
Ao apurar as causas das mortes, o Ministério do Trabalho deparou com uma série de padrões repetitivos, como uso de mão de obra submetida a treinamento inadequado, “falta de domínio sobre rotinas básicas de trabalho e tolerância por parte da CEEE em relação a violações graves praticadas por suas prestadoras de serviço”.
As irregularidades detectadas geraram 36 multas - 15 contra a CEEE e 21 contra a Setup e o resultado da apuração foi enviado para 11 órgãos de controle e fiscalização, como Polícia Civil, Polícia Federal e Ministério Público. O objetivo é analisar eventuais infrações criminais, trabalhistas e previdenciárias, sem prejuízo a demais ilegalidades.
A empresa recebeu um ultimato da CEEE, com ameaça de rompimento de contrato em caso de novas mortes. Nos bastidores da companhia, cogita-se ampliar gradualmente as tarefas repassadas à Conecta, inclusive em substituição à Setup em outras regiões do Estado.
Procurada, a CEEE informou que “frente aos últimos eventos climáticos, ampliou a atuação de suas equipes em campo, seguindo com as empresas Setup e Conecta como terceirizadas para atender as demandas de manutenção da companhia”. A Setup limitou-se a dizer que não houve redução de suas operações para a CEEE. A Conecta não se manifestou.
Presidente da Associação dos Municípios da Zona Sul do Estado, a prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas, diz que até terça-feira (26) havia consumidores sem energia na região, sobretudo na zona rural. Para Pelotas, a ampliação das equipes gera expectativas de melhoria no atendimento.
— Recebo muitas reclamações dos prefeitos, principalmente pela baixa efetividade da Equatorial. É um serviço que está longe de ser aprovado pela população, resultando em muitos prejuízos econômicos e emocionais. Espero que essa iniciativa traga resposta mais ágil e funcionários capacitados — comenta Paula.
Para o presidente do Sindicato dos Eletricitários do RS, Antonio Silveira, não basta apenas aumentar o número de técnicos nas ruas sem melhorar o treinamento.
— Não adianta colocar 10 mil pessoas, se eles não tiverem experiência e capacitação. Todos os dias recebemos relatos de despreparo e incapacidade de resolver os problemas — afirma Silveira.