Realização de sonhos, adaptação às dificuldades ou busca por oportunidades melhores. Os motivos para uma pessoa procurar uma nova chance no mercado de trabalho são variados, e quem embarca na missão de entrar ou se recolocar sabe que os desafios também são muitos. Um dos caminhos possíveis para dribla-los é a qualificação profissional, que adapta os conhecimentos dos candidatos às exigências dos empregadores e ajuda a preencher currículos em busca de uma vaga.
Para este fim de ano, pesquisa do Sindilojas Porto Alegre aponta que as funções com maior número de vagas temporárias serão vendedor, balconista, estoquista, empacotador e caixa. Além disso, também mostra que 49% dos lojistas ouvidos pretendem contratar neste modelo já nas próximas semanas.
Para apoiar a preparação dos candidatos a essas oportunidades, a entidade promoveu, nesta semana, uma formação de vendedores específica para os temporários do comércio. De olho nas oportunidades, os 30 lugares da turma foram esgotados, e há lista de espera para as próximas edições.
Melhoria constante é necessária
Conhecimento nunca é demais, e a estudante de costura Vanda Goulart, 45 anos, sabe bem disso. Depois de 16 anos trabalhando em uma loja de departamentos, ela se despediu do varejo e se dedicou a estudar. Fez um curso de costura no ano passado e, desde então, não parou de aperfeiçoar seus conhecimentos com outras capacitações.
Agora, ela quer voltar a trabalhar no comércio de roupas e oferecer um serviço melhor de atendimento aos clientes. Como nunca estudou sobre o comércio, achou que estava na hora de agregar, também, esse conhecimento.
– Nesta época, tem muitas oportunidades na área do comércio, que eu gosto. Acho que sou comunicativa e quero aproveitar isso. Me interessei (pelo curso) porque, apesar de ter a experiência, é importante ter a qualificação no currículo, ter uma rede de contatos – salienta.
Uma coisa que chamou a atenção de Vanda no curso para vendedores foi aprender sobre autoconhecimento. A moradora do bairro Itu-Sabará, na zona norte de Porto Alegre, não imaginava que este seria um tópico em uma formação para o comércio, mas, depois da aula, concorda que essa é uma lição valiosa para quem trabalha com o público:
– Assim, acaba tendo condições de avaliar melhor o perfil dos clientes, compreender as outras pessoas. Está sendo fantástico aprender mais!
Exigências e falta de formação são empecilhos
Para Andrielle Fagundes, 18 anos, a conquista do primeiro emprego de carteira assinada significa melhores condições de vida para ela e o filho de dois anos. Hoje, eles vivem na casa dos pais da jovem, no Morro da Cruz, zona leste da Capital. Sem conseguir pagar passagens de ônibus para levar o pequeno à creche particular custeada pela prefeitura, ela caminha oito quilômetros todos os dias.
– Meu filho está crescendo, precisa das coisas da escolinha. E tudo tem um custo – relata.
Andrielle tem apenas o Ensino Fundamental completo. O baixo nível de escolaridade soma-se à falta de experiência e, juntos, têm sido os maiores empecilhos na sua procura por emprego. Ela foi nas feiras de vagas do Sindilojas e do Sine que aconteceram na Capital na semana passada. Fez uma entrevista, mas não teve retorno dos empregadores.
–É muito difícil, tudo exige conhecimentos ou cursos. A mesma experiência que as empresas exigem, elas não dão. Aí imprime currículo, entrega, acaba e imprime de novo – explica, frustrada.
Em busca de tornar seu currículo sem experiências mais atrativo, quando soube da formação de vendedores, não teve dúvidas de que iria participar. Neste final de ano, ela espera conseguir seu primeiro emprego em uma das muitas vagas temporárias oferecidas nesta época e se estabelecer no mercado, pois ainda tem sonhos a realizar: a conquista de uma carteira de motorista, a entrada na faculdade de Administração e uma vida mais confortável para ela e o filho.
Pessoas não querem ensinar
A bacharel em Letras Édina Ambrósio, 40 anos, atualmente, procura um emprego para se manter enquanto cursa a licenciatura. Quando concluir o curso, em maio do ano que vem, seu objetivo é trabalhar em sala de aula. Ela conta que uma dificuldade que encontra no mercado de trabalho é a falta de atenção de alguns colegas e chefes.
–A pessoa que está empregando não tem tanta empatia com o empregado. Em um dos locais em que trabalhei foi assim. As pessoas não queriam ensinar. A gente já entra com essa dificuldade de o colega não ter boa vontade – relata.
O motivo de Édina tentar melhorar seu currículo profissional com a formação em vendas é o cachorrinho com quem mora no bairro Santana, zona leste de Porto Alegre. O animal precisa de cuidados veterinários e sofre com a distância da dona quando ela sai para o trabalho – isso, inclusive, a fez decidir sair do seu último emprego, em julho.
Para conciliar tudo, agora, busca se qualificar para ter chances em melhores oportunidades e, assim, colocá-lo em uma creche, onde será bem cuidado enquanto ela está fora.
– Era puxado. Esqueci de dar a ração um dia e ele latia muito, causou um alvoroço no prédio. Reclamaram muito para a proprietária. Isso, com a entrada de um novo gerente no local onde trabalhava, me fizeram querer sair – conta sobre o último emprego.
Produção: Caroline Fraga