O Rio Grande do Sul pode enfrentar racionamento da vacina BCG a partir do mês que vem. Segundo a Secretaria Estadual da Saúde (SES), os estoques estão garantidos até junho. A informação da pasta é sustentada nas médias de doses utilizadas pelas Coordenadorias Regionais de Saúde em 2021. A vacina de proteção contra a tuberculose geralmente é aplicada em bebês recém-nascidos e em crianças até os quatro anos de idade.
O Ministério da Saúde emitiu comunicado, em abril, para as secretarias estaduais informando que os estoques estão limitados e há dificuldades em adquirir o imunizante. No final de maio, diversas entidades médicas e científicas do país emitiram uma nota em conjunto com o alerta sobre a gravidade do problema.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) foi uma dessas entidades. A médica Tânia Petraglia, secretária do Departamento Científico de Imunizações do órgão, comenta a situação:
— A BCG é uma vacina que não pode ter uma cobertura baixa, porque a situação epidemiológica da doença é horrível. O país tem muita tuberculose. Não podemos deixar as crianças sem vacinação. Estamos em um momento muito ruim de cobertura vacinal. Se não tiver oferta da vacina, isso vai piorar.
A médica, que atua na linha de frente e conhece bem os prós e os contras da realidade diária das campanhas de vacinação, vai adiante e projeta o cenário sem as doses em quantidades normais.
— Se lá na ponta, onde estão os secretários e coordenadores municipais de Saúde, não souberem fazer um controle rigoroso dos bebês que nascem e da busca ativa de faltosos (pessoas que faltam ser vacinadas), a cobertura vai cair — afirma.
A BCG é produzida por apenas uma fábrica no Brasil, localizada no Rio de Janeiro. As instalações pertencem à Fundação Ataulpho de Paiva (FAP) e estão interditadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pelo não cumprimento de algumas exigências.
Conforme apuração do portal de notícias BBC Brasil, a FAP informou que começou a construir, desde 1989, nova fábrica em Xerém (RJ), para produzir a BCG de forma a “suprir a demanda nacional e parte da internacional, uma vez que a instituição recebe consulta de vários países”. Ainda assim, mais de 30 anos depois, a fábrica ainda não cumpre o objetivo.
Para a BBC, a Anvisa informou que a unidade de Xerém ainda não tem autorização para fabricar vacinas. Já a FAP declarou que a fábrica “já iniciou sua operação, nas áreas e atividades de armazenamento, embalagem e venda de produtos” e que está em “processo de regularização perante a Anvisa” para “dar continuidade à comercialização e fornecimento de BCG e Onco BCG”. Estaria, portanto, produzindo itens, mas não as vacinas.
Ainda segundo apuração da BBC, desde que os problemas com a FAP começaram, o Brasil tem adquirido doses de BCG com o Fundo Rotatório da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS).
— Acho que a Fundação Ataulpho de Paiva vai ter que investir num parque de vacina deles e cumprir o papel no país. O Brasil não pode ficar na dependência de um laboratório indiano ou russo que produza, mas que produza numa quantidade que não consiga abarcar o mercado brasileiro — opina a médica.
Segundo o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSus), a cobertura vacinal com BCG no Brasil está em 41,3% este ano. O Estado aparece com 41,04% de imunização até o momento. Conforme o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde sobre a tuberculose, foram notificados 68.271 casos novos da doença no ano passado. Isso equivale a 32 casos a cada 100 mil habitantes. O Ministério da Saúde foi procurado pela reportagem para explicar a situação. Até o momento, não houve resposta.
O que é tuberculose?
A tuberculose é uma infecção bacteriana que pode acometer diversos órgãos e sistemas do corpo humano, mas atinge especialmente os pulmões. A doença, descoberta pelo médico alemão Robert Koch, em 24 de março de 1882, é transmitida de pessoa para pessoa pelo ar, por meio de tosse, espirro ou gotículas expelidas durante o ato da fala. Entre os principais sintomas estão febre ao final do dia, tosse, fraqueza, cansaço e perda de peso.
Porém, condições que baixam a imunidade das pessoas, como uso de drogas, tabagismo, alcoolismo, falta de alimentação adequada e de higiene, contribuem para a contaminação. A vacinação é a grande aliada para prevenir o surgimento de casos graves da doença.