O racionamento de água em Bagé, com cortes diários de fornecimento, chegou ao fim neste sábado (30). As intensas chuvas que caíram sobre a região da Campanha na última semana de abril ficaram acima da média histórica, elevaram os níveis das barragens e permitiram a retomada do abastecimento pleno da população. Desde fevereiro, pelos últimos 67 dias, Bagé estava dividida em dois blocos, com cada um deles recebendo água intercaladamente em um período de 12 horas. Na outra metade do dia, o fornecimento era cortado como medida de contenção. Antes desse esforço, em janeiro, o município já havia iniciado uma etapa preventiva, com racionamentos diários de seis horas, durante as madrugadas.
A chuva foi fundamental para o cenário: foram registrados 208,9 milímetros em abril, informa o Departamento de Água e Esgotos de Bagé (Daeb), mais do que o dobro da média histórica de 97,5 milímetros. Em consequência, a barragem da Sanga Rasa, a principal da cidade, teve seu volume aumentado nos últimos dias do mês em 3,30 metros. O reservatório, agora, está com 2,80 metros abaixo do nível normal. Quando o município deu a largada no racionamento de 12 horas, em fevereiro, a marca indicava 4,30 metros a menos do que o esperado. No dia 22 de abril, antes das precipitações em grande volume, chegou a ficar 6,10 metros aquém do esperado, o que gerou um sinal de alerta do Daeb.
Nas outras duas fontes de abastecimento de água da cidade, após as recentes chuvas, a barragem Emergencial está cheia e a do Piraí registra apenas 10 centímetros abaixo da normalidade. Diretor do Daeb, Franco Alves afirma que o racionamento foi necessário para manter o sistema em funcionamento, evitando um colapso em período de forte estiagem. Apesar do retorno do abastecimento, Alves pediu que a população continue "evitando permanentemente os desperdícios de água".
— O período de mais frio ajuda, conseguimos acumular mais água, o consumo é menor, a evaporação é menor, o terreno fica mais úmido. Tudo isso ajuda. Mas, na realidade, o nosso problema é histórico. Temos de estar sempre cuidando ou, ali na frente, voltamos a uma situação crítica — diz Alves.
Quando as barragens da Sanga Rasa e de Piraí estão cheias, Bagé tem capacidade para estocar 4,2 milhões de metros cúbicos de água, o que é suficiente para quatro meses de abastecimento. Alves avalia que a antiga dificuldade de Bagé no abastecimento deve-se a tradicional escassez de chuvas na região e a pequena capacidade de armazenamento.
A aposta de futuro é a construção da barragem Arvorezinha, que terá porte para acumular 18 milhões de metros cúbicos de água. Ela será construída no local onde atualmente fica a barragem Emergencial, uma estrutura de pequena capacidade. A obra será executada pelo Exército, encontra-se em fase de topografia e sondagem, e o prazo de conclusão é de quatro anos, informa Alves.
Celebradas por permitir a volta do abastecimento pleno, as chuvas do final de abril em Bagé tiveram um efeito colateral, com alagamentos, destelhamentos e quedas de placas, postes e árvores.