No primeiro semestre, a vacina russa Sputnik V foi vista por governadores como alternativa para a escassez de doses no Brasil. Agora, as restrições de uso e a demora na definição de cronograma de envio do primeiro lote ao Nordeste têm desanimado governadores de outros Estados, que preveem desistir da compra. Mato Grosso do Sul já confirmou o recuo e Minas Gerais deu prazo até esta semana para receber a remessa.
Ainda em julho, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que a Sputnik não será incluída no Programa Nacional de Imunizações (PNI), uma vez que já existe um volume suficiente de outras vacinas encomendadas pelo governo federal. O Fundo Russo, responsável pela Sputnik, afirmou que essa sinalização de Queiroga põe em risco o envio do primeiro lote ao Nordeste, de 1,6 milhão de doses, segundo os governadores da região. A remessa era prevista para o dia 28, mas na semana passada o Fundo Russo disse que só confirmaria o envio na sexta-feira (23) - e a resposta não chegou até este sábado (24).
Secretário estadual de Saúde de Minas, Fábio Baccheretti disse na sexta-feira que, se a Sputnik não for entregue ao Estado ainda em julho, o "caminho previsto" é cancelar a importação do imunizante.
- Caso essa vacina não chegue agora, pelo adiantamento do nosso calendário, não valeria a pena esforço tão grande e investimento tão grande - afirmou em coletiva de imprensa.
Assim como outros 15 Estados, Minas conseguiu autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para importar a Sputnik para aplicação em 1% da população do Estado - que equivale a 428 mil doses da Sputnik V.
- Estamos em tratativas e negociações com o Fundo Soberano Russo para que a gente consiga, sim, trazer - destacou Baccheretti, embora admita que os indícios não se mostram tão favoráveis.
O governo argentino também tem pressionado a Rússia para acelerar as entregas - o país vizinho já enfrenta atraso na aplicação da segunda dose. Na sexta-feira, o Kremlin informou trabalhar para resolver o problema, mas ressaltou que sua prioridade é a demanda interna. Para o secretário de Saúde do Mato Grosso do Sul, Geraldo Resende, foram as mais de 20 condições listadas pela Anvisa que fizeram o Estado perder o interesse.
Ele explica que o governo até chegou a assinar carta de intenção de compra no início da negociação junto ao Consórcio Brasil Central - formado por Estados do Centro-Oeste e agregados, como Rondônia e Tocantins -, mas desistiu.
- As condicionantes postas, principalmente de só poder comprar para 1% da população, e o processo de morosidade da entrega, fazem não compensar - disse Resende. Principalmente, reforça Resende, por conta de o Mato Grosso do Sul ser o Estado cuja imunização completa está mais avançada no País. Cerca de 41% da população adulta do Estado está completamente imunizada contra a covid-19. Pela determinação da Anvisa, a vacina deve ser aplicada só em 1% da população, em unidades especializadas e com monitoramento posterior.
- O melhor caminho que nós devemos fazer é continuar recebendo as doses do Ministério da Saúde e vacinando com a máxima velocidade - afirmou o secretário.
Procurado, o Consórcio Nordeste informou que, até este sábado (24), ainda não tinha recebido retorno do Fundo Russo. Em nota, o ministério disse que os imunizantes ofertados pelo PNI devem ter registro de uso emergencial ou definitivo da Anvisa: "A pasta esclarece que o processo de compra da vacina Sputnik segue em análise."
Responsável pela produção da Sputnik V no Brasil, a União Química, que ainda tenta aprovar o uso emergencial do imunizante, informou que espera a chegada da vacina "o quanto antes". Destacou, ainda, que a efetividade e segurança do produto têm se mostrado satisfatórias no exterior.