Com andar vagaroso, Janete Guimarães dos Santos, 78 anos, empurra o carrinho de feira repleto de alimentos. Mesmo protegida pelas duas doses da vacina contra o coronavírus, mostra-se consciente ao usar uma máscara N95 modelo PFF2, dentre as mais seguras, segundo especialistas. Na mão direita, ela segura a sacola, grande demais para ser guardada na bolsa do veículo. Carrega arroz, feijão, massa, óleo de soja, açúcar, farinha de milho e leite em pó, além de uma variedade de legumes, frutas e verduras.
— Essa doação é uma benção de Deus — define, sobre a cesta básica que ganhou na Ilha do Pavão, em Porto Alegre.
A rua de chão batido pela qual Janete transporta a comida ficou lotada de moradores do bairro Arquipélago na manhã desta sexta-feira (30), definido como “o dia de combate à fome” pela Associação Brasileira das Centrais de Abastecimento (Abracen). A entidade nacional dividiu R$ 200 mil entre as centrais de cada Estado para a aquisição dos insumos, que têm como destino as regiões mais pobres de cada município.
Por meio do Banco de Alimentos da Ceasa gaúcha, 15 toneladas de hortifrutigranjeiros e 500 cestas básicas com produtos não perecíveis foram arrecadados, e além da Ilha do Pavão, tem o bairro Humaitá como destino nesta véspera do Dia do Trabalhador.
A coordenadora do banco de alimentos, Rosandrea Vargas, era uma das mais envolvidas na atividade desta sexta. Em uma folha dobrada, contabilizava os milhares de quilos prestes a serem doados. Foi pessoalmente à ilha apoiar a entrega.
— Temos 150 entidades ajudadas diariamente no nosso banco de alimentos — afirma.
A logística, desde o bairro Anchieta até a região das ilhas, contou com um caminhão do Mesa Brasil, programa do Sesc de combate à fome. De acordo com Andrea Przybysz da Silva Rosa, nutricionista da entidade, a perda de renda na pandemia tirou das famílias também boa parte de sua nutrição. Com o somatório dos vegetais frescos, a alimentação fica mais rica, reitera.
Loreni Pereira, 51 anos, demonstrava ter vontade de abraçar os transportadores da Ceasa, enquanto entregavam tomate, pimentão, chuchu e banana na sede social da Ilha do Pavão, local que teve grandes filas próximo das 11h.
— Eu não tenho como sobreviver sem a ajuda. Não tenho renda — afirma.
Algumas pessoas levaram carroças de reciclagem e outras usaram carrinhos de bebê para acomodar os pacotes.
Para o presidente da Ceasa do Rio Grande do Sul, Ailton dos Santos Machado, a solidariedade dos produtores rurais e atacadistas que ocupam os pavilhões na zona norte da Capital tornam a iniciativa viável.
— Sem eles, não existe o nosso programa. A gente já faz entregas diárias, e hoje tem essa união em todo o país — explica.
A Secretária da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural, Silvana Covatti, também valoriza o homem do campo.
— Aqui vejo um mundo diferente, um mundo de quem está mexendo na terra e trazendo essas maravilhas para nós. Hoje, mais de 400 famílias vão receber os alimentos. Aqui está a nutrição, o que precisamos para nós vivermos — elogia, enquanto os caminhões se preparam para a distribuição.
Ao todo, são 2,2 mil produtores, que vendem exclusivamente o que sai do plantio próprio. Há ainda 360 atacadistas no complexo.