O Banco Central anunciou, no dia 29 de junho, a entrada em circulação da cédula de R$ 200. O assunto se tornou o mais comentado nas redes sociais, com muitas pessoas sugerindo opções para ilustrar a nota. Oficialmente, o lobo-guará será o grande astro, mas memes com o jogador Neymar ou a cantora Pabllo Vittar ganharam notoriedade. No entanto, a unanimidade entre as brincadeiras dos internautas foi o popular cão vira-lata caramelo — um pet que faz parte do imaginário da população brasileira.
Uma das fotos utilizadas nas montagens com o cão é a da Pipi. A vira-lata de cor caramelo pertence a família da gestora de recursos humanos Vanessa Brunetta, 38 anos. Moradora de Porto Alegre, ela vê a imagem do bichinho de estimação fazer sucesso na internet. Mas a foto representa um momento difícil para a moradora da Zona Norte. Há cinco anos, durante um passeio no Parque da Redenção, a cachorra conseguiu se soltar da guia e fugiu.
— Durante cerca de um ano foi feita uma campanha para tentar localizar ela. Essa foto que aparece agora em tudo que é lugar estava nos cartazes que mandamos fazer para tentar encontrar a Pipi. Só que há cerca de dois anos, alguém pegou essa foto e fez um meme — relembra.
O cachorro desapareceu no feriado de 15 de novembro de 2015. Era a primeira vez da Pipi passeando pelo parque na área central da cidade. Conforme Vanessa, a cadela correu em direção à Avenida Osvaldo Aranha após se assustar com outro cachorro. As buscas seguiram nos dias seguintes, com mutirões de pessoas de carro, a pé e também nas redes sociais.
— Fizemos muita divulgação pelo Facebook. Tinha gente de fora do país que ajudava a fazer as postagens. Não sabemos quem, nem de que forma, pegou essa foto e disse que era o popular "cachorrinho caramelo".
Pipi foi o primeiro cachorro da família e foi adotada com seis meses em uma petshop em 2013. A cadelinha era cadastrada e tinha características próprias que só a família conseguia reconhecer.
— Entre 2015 e 2016, encontramos 17 cadelas exatamente iguais a ela. As pessoas nos telefonavam e saíamos correndo até o local. Mas, no fim, nunca era a Pipi. Nós conhecemos as características dela, ela dormia na cama dos filhos — conta.
Até hoje, a cadela não foi encontrada. As brincadeiras nas redes sociais na última semana foram muitas. Até um deputado federal de Minas Gerais criou um abaixo-assinado virtual pedindo para que o Banco Central usasse a imagem do cachorro vira-lata na nova cédula de R$ 200. O parlamentar Fred Costa (Patriota) afirma que ação seria um incentivo para a adoção e o controle da espécie.
"Não descartamos a relevância do lobo-guará na história e na fauna brasileiras, porém o cachorro vira-lata está mais relacionado ao cotidiano dos brasileiros e, além disso, é presente em todas as regiões do país", escreveu o deputado na descrição da petição. Até esta terça-feira (4), 44,8 mil pessoas assinaram o documento eletrônico.
Uma marca de carteiras do Rio Grande do Sul utilizou a foto da cadelinha de Vanessa como estampa. Inicialmente, a família não gostou da ideia, e procurou a empresa para alertar que aquela fotografia era do animal de estimação da família. A empresa, localizada em Montenegro, se propôs em doar o valor arrecado com a venda da carteira para uma instituição de auxílio aos animais escolhida pela família.
— Inicialmente, quando a gente vê a foto, não é uma coisa que nos faz feliz. Foi um momento difícil para todos. O posicionamento da empresa nos fez mudarmos de ideia. Essa atitude me fez ver as coisas com um pouco mais de carinho. Recebi mensagens de outras pessoas apoiando a ideia e isso me fez bem. Antes disso acontecer, ficava furiosa e pensava: "Tem 500 cachorros caramelo na rua, porquê pegaram a foto da minha?".
O cachorro caramelo e sem raça definida se tornou um símbolo da cultura brasileira.
— Existem milhões de cachorros caramelos no mundo, mas essa era minha. Então, quando você ver essa foto, não pense em um cachorro de rua, aquele que dormia na calçada. Não, essa dormia na minha cama e era minha filha — finaliza.
A previsão do Banco Central é colocar a nova cédula em circulação até o final de agosto. Detalhes como tamanho e cor ainda não foram divulgados. A justificativa apresentada para a introdução de uma nova nota é que, com a crise provocada pela pandemia, aumentou a procura pelo dinheiro físico. Outro motivo foi o pagamento do auxílio emergencial — boa parte dos beneficiários preferiu sacar o benefício em espécie.