A Vale falhou em planos de emergência, demorou a adotar medidas que rebaixassem o nível de água na barragem B1 e não retirou os trabalhadores da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, que ficavam em áreas próximas à estrutura que rompeu em janeiro deste ano. Essas são algumas das conclusões do relatório feito pela Superintendência Regional do Trabalho em Minas Gerais sobre a tragédia que deixou 249 mortos e 21 desaparecidos.
— A barragem estava muito fragilizada. Os fatores de segurança, ao longo do tempo, foram piorando, o que acarretaria na paralisação das atividades e posteriormente o acionamento do PAEBM (plano de emergência), com a retirada de trabalhadores e da população à jusante da barragem — afirma o auditor fiscal Marcos Botelho.
Segundo ele, a linha do lençol freático na barragem era muito alta, e seria necessário rebaixar 98 metros cúbicos por hora durante um ano e meio para que ela chegasse a um nível de segurança satisfatório.
A condição era conhecida da mineradora e foi apontada em uma série de relatórios. De acordo com Botelho, em 1976, já havia sido detectado que a barragem não teria drenagem no dique inicial. A Vale adquiriu o complexo em 2001.
Botelho citou a instalação dos drenos horizontais profundos, conhecidos como DHPs, que começaram a ser instalados na barragem B1, como medida para drenar a água, mas disse que a Vale não atuou efetivamente para rebaixar a linha freática elevada.
A questão também foi apontada pela Polícia Federal na primeira parte do inquérito sobre a tragédia. A PF indiciou 13 funcionários da Vale e da Tuv-Sud por crimes como falsidade ideológica e uso de documento falso.
A Superintendência do Trabalho lavrou 21 autos de infração decorrentes da fiscalização relacionada à tragédia. A Vale pode recorrer. Procurada, a mineradora disse apenas que não tomou conhecimento do relatório.
Para o órgão, em 2016, quando a mineradora chegou a cálculos de fatores de segurança menores que o mínimo, as atividades da mina deveriam ter sido interrompidas para se colocar reforços na barragem.