O temporal do final da noite de sexta-feira (8) e início da madrugada deste sábado alagou ruas de ao menos 70% do município de Novo Hamburgo, segundo estimativa do coordenador da Defesa Civil da cidade, tenente Claudiomiro da Fonseca. Foram 113 milímetros de chuva desde a noite passada até as 9h, de acordo com a Defesa Civil. O volume equivale ao esperado para mês na cidade do Vale do Sinos.
Pelo menos 300 pessoas precisaram sair de casa em razão da chuva. Eles foram abrigados por familiares. A estimativa da Defesa Civil é que o número de moradores desalojados seja ainda maior.
Os bairros mais afetados foram Santo Afonso, Industrial e Canudos, onde o muro da casa do aposentado Valdoci Gonçalves Jardim ficou destruído pela força da água.
— Foi uma onda muito forte, que em meia hora derrubou o muro e invadiu a minha casa — conta, ao mostrar a marca de mais de um metro na parede do quarto da filha, de 11 anos.
Morador da Rua Pedro Ribeiro de Araújo há mais de uma década, ele afirma que a situação piorou muito depois que o bairro Canudos se expandiu, com a criação de novos condomínios.
— Eu pago imposto, não é área invadida. E essa rua é assim, chove e alaga rapidamente — reclama.
A sala de estar virou cenário de terremoto, com cadeiras sobre o sofá, estantes caídas, cobertas pelo barro. Na cozinha, a família tentou salvar o que restou do balcão da pia.
A situação do aposentado é semelhante à da "Casa Verde", local na mesma via que reúne cerca de 30 idosas artesãs. Elas fazem de sua arte uma fonte de renda extra, realizando feiras na cidade. Dentro de residência, barro por todo o lado e, no pátio, os materiais utilizados pelas vovós, aguardavam o descarte.
Na Rua Otto Schonardier, a calçada cedeu, bloqueando a saída da garagem da moradora Elaine Capelletti, 56 anos.
— É a segunda vez que a calçada cai — explica.
Ao caminhar pelo passeio, pode-se sentir a estrutura oca, afundando mais a cada passo.
No bairro Industrial, por volta das 10h ainda havia carros abandonados, que foram carregados pelo alagamento após pane mecânica. Nem mesmo uma camionete Kia Sorento venceu as águas e “boiou” na Rua Minuano, segundo Terezinha Zuleica Junges, 79 anos. Há 40 anos em Novo Hamburgo, ela diz que nunca viveu situação semelhante.
— Não dormi nada. Eu e minha neta estamos limpando desde a noite passada, com medo. O carro ali passou boiando, um horror — relembra.
As bocas de lobo formavam redemoinhos enquanto Ronaldo de Sousa, 54 anos, varria a água suja para fora do pátio. Depois de cobrir o asfalto, a onda passou sobre o muro e invadiu a residência.
— Perdi geladeira, máquina. O botijão estava boiando hoje de manhã. Agora é limpar e ver o que sobra. Estrago sem tamanho.
Na pequena casa da auxiliar de limpeza Marta Farias, 46 anos, nem os alimentos sobraram.
— Tentei levantar tudo, mas não deu tempo. Aqui alaga muito, mas dessa vez doeu.
A Defesa Civil seguirá o trabalho de rescaldo e atendimento aos moradores durante todo o sábado. Com o reforço de voluntários, cerca de 10 profissionais percorrem as ruas da cidade.