Único sobrevivente do trágico acidente entre dois carros no quilômetro 636 da BR-471, em Santa Vitória do Palmar, no extremo sul gaúcho, o cubano Armando Sosa Gonzalez, 24 anos, recebeu alta nesta terça-feira (6) na Santa Casa de Rio Grande. Apesar disso, ele segue na casa de saúde, aguardando o acerto de detalhes da sua saída.
Ele estava internado desde 1º de janeiro de 2018, quando o táxi do aeroporto Salgado Filho em que estava, um Cobalt, sofreu o choque de um Fiesta Titanium.
No táxi, morreram o motorista Maurício Popow e outros três cubanos: Reynaldo Delgado Díaz, 45 anos, Niurka García Roque, 46, Osmani Hidalgo Leyva, 21. No Fiesta, com placas de Santa Vitória do Palmar, faleceram outras quatro pessoas, somando oito vítimas fatais.
Após o choque, Armando foi encaminhado à UTI da Santa Casa de Rio Grande devido ao politraumatismo sofrido. Mais de um mês depois, consegue caminhar com o amparo de muletas. A informação é de que, após a conclusão de trâmites, ele seguirá viagem até Porto Alegre, onde tomará avião para iniciar o regresso a Cuba.
Na semana do acidente, um irmão dele, Adrián, que vive em Miami, nos Estados Unidos, fez contato com o hospital e informou que pretendia vir ao Brasil para recuperar os pertences do irmão — ele viajava com quase US$ 3 mil —, além de visitá-lo. Adrián, contudo, não chegou a vir ao país.
Rota migratória
A fatalidade expôs uma rota migratória de cubanos que estão cruzando o Brasil, tendo o Rio Grande do Sul como último trecho antes da chegada ao Uruguai. A maioria, caso de Armando, que tinha pedido de visto para ir aos Estados Unidos, deseja fazer do Uruguai uma plataforma para chegar a cidades norte-americanas como Miami. Reynaldo e Niurka, casal caribenho que faleceu no acidente, planejavam chegar a Jacksonville, na Flórida, onde o primeiro tinha um familiar.
Os quatro cubanos envolvidos no sinistro faziam parte de um grupo maior, integrado por 25 compatriotas que saíram de Havana nos últimos dias de dezembro de 2017. Eles ingressaram no Brasil a partir da fronteira entre Guiana e Roraima, onde cruzaram um rio antes de pisar em chão brasileiro.
Embora os Estados Unidos seja o sonho de parada final, muitos cubanos estão ficando pelo caminho. Alguns fixam moradia no Uruguai, atraídos pela facilidade na aquisição dos documentos de legalização migratória e pela presença de parentes. Outros, ainda em número menor, estão pedindo refúgio no Brasil, se alojando em cidades fronteiriças gaúchas como Chuí e Santana do Livramento.
No Chuí, Zero Hora encontrou, no início de janeiro, o casal de cubanos Carlos Luis Torres Molina, 47 anos, e Ivon Rodriguez Perez, 44. Eles estavam no mesmo grupo de 25 migrantes que partiu de Havana e, na primeira metade da viagem, conheceram os quatro compatriotas que sofreram o acidente.
Carlos e Ivon decidiram solicitar refúgio no Brasil, procedimento que é feito na Polícia Federal. A intenção deles era buscar trabalho e moradia no Rio Grande do Sul, em cidade próxima do Uruguai.
Mario J. Pentón, cubano residente em Miami, jornalista do diário 14ymedio, com noticiário especializado na ilha caribenha, explica os motivos da crescente rota migratória pela América do Sul.
— Em 2016, o então presidente dos EUA, Barack Obama, eliminou a política pés secos/pés molhados, que permitia a todo cubano que chegava à fronteira ter caminho aberto para o refúgio e a residência permanente (green card). Milhares de cubanos estão ficando presos na América Latina a caminho dos EUA. Centenas se encontram neste momento chegando a Chile, Peru, Uruguai, Brasil e Argentina, vindos principalmente da Guiana, um dos poucos países que não exige visto para eles — relata Pentón.