O ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) foi preso preventivamente, nesta segunda-feira (3), pela Polícia Federal (PF), na Bahia. Conforme o MPF, Geddel é suspeito de tentar obstruir investigação que apura irregularidades na liberação de recursos da Caixa Econômica Federal.
Como a prisão é preventiva, o político segue detido por tempo indeterminado. Os investigadores se basearam em elementos levantados a partir dos depoimentos do doleiro Lúcio Bolonha Funaro, apontado como operador de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Joesley Batista, um dos donos da JBS, e do diretor jurídico do grupo J&F, controladora da JBS, Francisco de Assis e Silva.
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O ex-ministro do governo Temer foi preso dentro da Operação Cui Bono, que apura suspeitas de irregularidades de pagamento de propina na liberação de financiamento de R$ 4,3 bilhões da Caixa Econômica Federal para empresas, entre elas as da holding J&F. Geddel foi vice-presidente de Pessoa Jurídica do banco estatal.
A força-tarefa da Lava-Jato alega que o ex-ministro "tem agido para atrapalhar as investigações". A atuação de Geddel seria para evitar que Cunha e Funaro firmem acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF). O político estaria agindo para garantir vantagens indevidas para ambos, além de monitorar o comportamento de Funaro.
Conforme a MPF, existem registros de mensagens enviadas recentemente – entre os meses de maio e junho – por Geddel à esposa de Funaro. O doleiro entregou à polícia cópias de diversas telas do aplicativo.
O ex-ministro, que era identificado pelo apelido "carainho", teria questionado a mulher de Funaro sobre a possibilidade do operador fechar acordo de delação premiada.
Veja a íntegra do documento enviado pelo MPF:
Em cumprimento a uma ordem judicial que atendeu a pedido da Polícia Federal e da Força-Tarefa Greenfield – que também é responsável pelas operações Sépsis e Cui Bono - , foi preso nesta segunda-feira (3), o ex-ministro Geddel Vieira Lima. A prisão é de caráter preventivo e tem como fundamento elementos reunidos a partir de informações fornecidas em depoimentos recentes do doleiro Lúcio Bolonha Funaro, do empresário Joesley Batista e do diretor jurídico do grupo J&F, Francisco de Assis e Silva, sendo os dois últimos, em acordo de colaboração premiada. No pedido enviado à Justiça, os autores afirmaram que o político tem agido para atrapalhar as investigações. O objetivo de Geddel seria evitar que o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o próprio Lúcio Funaro firmem acordo de colaboração com o Ministério Público Federal (MPF). Para isso, tem atuado no sentido de assegurar que ambos recebam vantagens indevidas, além de "monitorar" o comportamento do doleiro para constrangê-lo a não fechar o acordo.
Na petição apresentada à Justiça, foram citadas mensagens enviadas recentemente (entre os meses de maio e junho) por Geddel à esposa de Lúcio Funaro. Para provar, tanto a existência desses contatos quanto a afirmação de que a iniciativa partiu do político, Funaro entregou à polícia cópias de diversas telas do aplicativo. Nas mensagens, o ex-ministro, identificado pelo codinome "carainho", sonda a mulher do doleiro sobre a disposição dele em se tornar um colaborador do MPF. Para os investigadores, os novos elementos deixam claro que Geddel continua agindo para obstruir a apuração dos crimes e ainda reforçam o perfil de alguém que reitera na prática criminosa. Por isso, eles pediram a prisão "como medida cautelar de proteção da ordem pública e da ordem econômica contra novos crimes em série que possam ser executados pelo investigado".
Com a prisão de Geddel, passam a ser cinco os presos preventivos no âmbito das investigações da Operação Sépsis Cui Bono. Já estão detidos os ex-presidentes da Câmara, Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves, o doleiro Lúcio Funaro e André Luiz de Souza, todos apontados como integrantes da organização criminosa que agiu dentro da Caixa Econômica Federal (CEF). No caso de Cunha, Alves e Funaro, já existe uma ação penal em andamento. Os três são réus no processo que apurou o pagamento de propina em decorrência da liberação de recursos do FI-FGTS para a construção do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro. Além deles, respondem à ação, Alexandre Margoto e Fábio Cleto.
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CONTRAPONTO
Em nota, o advogado de defesa de Geddel, Gamil Föppel, afirmou, nesta segunda-feira (3), que o peemedebista foi "injustamente enredado no bojo da Operação Cui Bono" e que "deposita sua integridade física nas mãos da autoridade policial".
Confira a íntegra da nota oficial:
"A defesa técnica do Senhor Geddel Vieira Lima vem registrar sua incompreensão em relação ao absolutamente desnecessário decreto de prisão preventiva.Decerto, diante da ausência de relevantes informações para sua decisão, inexplicavelmente não relatadas na representação policial, a autoridade judiciária infelizmente laborou em erro. Dessa forma, acabou por não considerar que, desde o momento em que o Senhor Geddel Vieira Lima se viu injustamente enredado no bojo da 'Operação Cui Bono', colocou-se à disposição das autoridades constituídas, para apresentar os documentos que lhe fossem solicitados, assim como comparecer a todos os chamados que eventualmente lhe fossem formulados, inclusive abrindo mão dos seus sigilos bancário e fiscal, assim como do seu passaporte.
Assim, em que pese tenha sucessivamente se disponibilizado a prestar depoimento, inacreditavelmente, até o presente momento, jamais foi intimado para tanto, revelando uma preocupação policialesca muito mais voltada às repercussões da investigação para grande imprensa, do que efetivamente a apuração de todos os fatos.
Ademais, deixou de ser relatado que, mesmo no depoimento prestado à Procuradoria-Geral da República, Joesley Batista foi enérgico em pontuar que jamais pagou propina (ou qualquer tipo de vantagem indevida) ao Senhor Geddel Vieira Lima. Enfim, diante da ausência de relevantes informações, acabou-se por não apreciar os substanciais elementos que comprovavam a inadmissibilidade da prisão preventiva no caso concreto.
Sabedor da sua inocência e confiante na altivez do Poder Judiciário, o Senhor Geddel Vieira Lima segue inabalável na reparação do cerceamento às suas liberdades fundamentais, registrando que, estando custodiado, deposita sua integridade física nas mãos da autoridade policial.
Salvador/BA, 3 de julho de 2017.
Gamil Föppel
OAB-Ba 17.828"