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Apesar de admitir as dificuldades do Hospital São Carlos e reconhecer a situação como o principal gargalo da saúde pública do município, a perspectiva da secretária de Saúde de Farroupilha, Rosane Inês Bourscheidt da Rosa, é bem otimista. Ela confirma que o hospital demonstra claros sinais de recuperação e descarta a possibilidade de fechamento.
– Nossos esforços (do poder público e da gestão da instituição) estão totalmente voltados ao São Carlos. Sequer podemos cogitar a hipótese de fechar um hospital que é referência a 12 município da região – garante.
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A secretária relata ter se surpreendido ao saber da situação financeira difícil quando conheceu o hospital, logo antes de assumir o cargo, no início deste ano, em razão da "excelente estrutura" que apresenta. Por outro lado, cita casos de outros municípios que vivenciam problemas semelhantes e as dificuldades que o setor de saúde pública atravessa.
– Quase todas as cidades sofrem com esse problema. Todos que trabalham em hospitais e na administração pública conhecem a dimensão dos custos diários, que só se agravam com a defasagem do reajuste da tabela do SUS e a necessidade de as prefeituras repassarem cada vez montantes maiores para a manutenção do funcionamento – complementa.
Sobre os gastos elevados com a contratação de empréstimos, Rosane discorda tenham havido exageros. Para ela, compromissos financeiros desse perfil só são considerados em momentos necessários.
– Se foram aprovados, é porque passaram pelo aval de vários especialistas e autoridades. Decisões como essa não são tomadas por uma só cabeça – defende.
A 5ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) alega que a situação deve ser tratada em âmbito administrativo. De acordo com a titular da 5ª CRS, Solange Sonda, por haver um pacto de gestão firmado entre o hospital e a prefeitura, as questões são resolvidas no próprio município, sem que possa haver interferência externa. Assim, o Estado fica limitado a garantir a manutenção de repasses. Dos 22 hospitais representados pela coordenadoria, ela reconhece que o São Carlos é o que se encontra na condição mais dramática.
– Estamos em dia com relação aos repasses e pouco podemos fazer para ajudar nesse caso, mas nos preocupa essa situação, principalmente porque reconhecemos a importância do hospital na região – salienta Solange.
Movimento aumentou 52% neste semestre
A prefeitura é parte atuante da luta para que o hospital não feche as portas. De acordo com relatório da Secretaria Municipal da Saúde, de 2013 até agora, mais de R$ 45,1 milhões foram destinados pela gestão municipal ao São Carlos. Neste mesmo período, o Estado destinou cerca de R$ 12,7 milhões, e o repasse federal é de R$ 36,3 milhões. Estes repasses são fundamentais tanto para a manutenção da instituição quanto para a circulação de pacientes: sem internações e consultas, não há entrada de dinheiro e, consequentemente, as finanças vão de mal a pior. Por isso, o foco da atual administração é, além de restabelecer as contas, atrair gente para o hospital.
– A questão financeira é cruel, mas sabe-se que há dívida e vamos tentar resolver. Mas resgatar o fator humano, que é o médico que traz o paciente para o hospital, é desafiador. Devemos mais de R$ 4,5 milhões só para esses profissionais. Queremos que eles voltem a atender aqui. Nosso hospital é bom, e os médicos gostam daqui. O problema é como eles saíram daqui. Queremos resgatá-los – afirma a superintendente, Janete Toigo.
Este trabalho de reaproximação com a classe médica e consequência dos investimentos são animadores. O percentual de aumento das internações de janeiro a junho, segundo os dados do hospital, é de 94% em relação ao SUS e 52% convênios (em janeiro, 10.203 pacientes foram atendidos pelo SUS, contra a projeção de 18.163 de junho). O volume cirúrgico também cresce: são 322 procedimentos projetados em junho, contra 181 de janeiro. Em maio, foram 291 cirurgias.
– Nossa estrutura é excelente, temos equipamentos novos. Na semana passada, um paciente veio de Caxias fazer cirurgia porque gosta deste hospital e o médico atende aqui. É isto que queremos de volta – afirma Janete.
"O endividamento é o problema da grande maioria dos hospitais filantrópicos"
O governo do Estado regularizou a pendência dos repasses aos hospitais filantrópicos no início deste ano. Desde então, a situação que prejudicava o andamento dos serviços nas instituições hospitalares foi normalizada. No entanto, o comprometimento acumulado gerou o endividamento de diversos hospitais gaúchos, que, de acordo com o presidente da Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos do Rio Grande do Sul, André Emílio Lagemann, afeta a grande maioria dos municípios.
– Foram adquiridas muitas dívidas ao longo deste período, com empréstimos, fornecedores, parcelamentos e outros encargos. Infelizmente, nossas instituições agora precisam se adaptar a essa realidade e enfrentar os prejuízos – lamenta.
Ainda assim, ele ressalta que a entidade continua a pleitear o incremento de recursos e repasses governamentais. Lembra também que a Câmara dos Deputados está articulando a formação de uma comissão especial para avaliar a possibilidade da criação de um mecanismo de financiamento para hospitais endividados. Porém, não há estimativa de quando a medida seria implementada.