Ex-executivos da Odebrecht confirmaram, por meio de acordo de delação premiada, pagamentos que somam ao menos R$ 350 mil a Anderson Dorneles, ex-assessor especial de Dilma Rousseff, de 2013 a 2014.
Dorneles é citado nos depoimentos do ex-presidente do grupo Marcelo Odebrecht e de outros integrantes do alto escalão da empresa: Cláudio Melo Filho, João Carlos Mariz Nogueira e José Carvalho Filho.
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Os repasses teriam sido feitos para garantir a boa relação com o assessor, que foi descrito pelo ex-presidente da Odebrecht como uma pessoa importante para manter a agilidade no contato entre a empresa e a então presidente Dilma Rousseff. De acordo com Marcelo, o pagamento foi solicitado por Dorneles, mas teria sido intermediado por dois amigos dele. Essas pessoas teriam sido identificadas como Fabio Veras e Douglas Rodrigues.
Odebrecht informou que colocou Dorneles em contato com o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Mello Filho para que ambos acertassem o valor do repasse. O empresário destacou que "não podia negar" o pedido do assessor de Dilma, pois ele era "importante na interlocução com a presidente e poderia bloquear notas e e-mail seus enviados para a então presidente da República":
– Imagina a dificuldade que é falar com um presidente (...). Eu precisava ter a segurança de ter uma pessoa que se eu mandasse algo para a presidente, e eram várias, ia chegar na mão dela.
O ex-presidente do grupo também afirma que, antes deste pedido, Dorneles havia solicitado apenas vantagens para participar de eventos, como os carnavais do Rio de Janeiro e Salvador.
Odebrecht disse não saber como se chegou ao valor do pagamento de R$ 50 mil, mas que foi informado sobre a quantia por Melo Filho e autorizou a transação:
– Depois ele me pediu autorização e disse: "Marcelo acertei o valor de 50 (mil reais). Estou autorizado? Eu falei: "está autorizado", porque esse (pagamento) saiu do meu centro de resultado. Ou seja, eu que autorizei, eu que banquei. Não foi para nenhuma empresa. Eu autorizei diretamente – explicou o executivo aos procuradores do MP.
Em sua delação, Melo Filho mostra o registro de sete pagamentos de R$ 50 mil ao codinome "Las Vegas", relacionado ao secretário de Dilma. Mas a quantia pode ser maior, pois o executivo afirma que os interlocutores de Dorneles, que agiam exclusivamente para tratar dos repasses, continuaram visitando os escritórios da empreiteira após os registros levantados por ele.
– Ele (Marcelo Odebrecht) me disse que o Anderson Dorneles trabalhava com a presidente Dilma Rousseff e que cuidava da agenda dela. Por essa razão, recebeu um pedido do senhor Anderson para fazer contribuição financeira.
Odebrecht não soube precisar quantos repasses foram ao longo desse período, mas confirmou a periodicidade, de 2013 a 2014, dos depósitos:
– Parece que teve uma interrupção, mas depois voltou. Foram alguns pagamentos de R$ 50 mil com uma interrupção no meio. Em um momento, parou de ser o Fabio e veio a ser outro amigo (que tratava dos depósitos).
Hilberto Mascarenhas confirmou os pagamentos para o codinome "Las Vegas" no sistema que controlava os repasses da Odebrecht a políticos e agentes públicos, mas não soube dizer se o apelido se referia ao então assessor de Dilma. Segundo Mascarenhas, sua função era apenas "efetuar os pagamentos após a autorização de Marcelo Odebrecht".
– Não tomei (conhecimento de quem era "Las Vegas") e não me interessa. Eram mais de 500 pessoas que tinham codinomes cadastrados (no sistema). Se eu fosse saber tudo, eu morria – disse.
Anderson Dorneles conhece Dilma Rousseff desde que ela presidia a Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul (FEE). Desde então, ele ganhou a confiança da política e sempre trabalhou como assessor pessoal de Dilma nos cargos públicos ocupados por ela.
João Carlos Mariz Nogueira explica como conheceu Anderson Dorneles e sua relação com o assessor:
O que diz Anderson Dorneles:
ZH tentou contato com o ex-assessor de Dilma Rousseff, mas não obteve retorno.