Um mês depois da tempestade que devastou pelo menos cinco bairros de São Francisco de Paula e deixou 1,6 mil desabrigados, a cidade lembra da fatídica manhã de domingo, 12 de março. As lembranças da tragédia ficam evidentes ao percorrer as áreas mais castigadas, como o loteamento Santa Isabel e o Distrito Industrial, mas muitos carregam marcas físicas como lembrança.
O forte vendaval que atingiu São Chico no mês passado vitimou Claudemir Gomes de Freitas, 24, atingido na cabeça por uma barra de ferro quando se deslocava para um culto evangélico, e também deixou inúmeros feridos. No mesmo dia, o hospital de caridade da cidade fez mais de 100 atendimentos a pessoas que se machucaram durante a passagem do temporal. Duas delas, que ficaram em estado grave, hoje estão bem, mas carregarão lembranças físicas da tragédia. Willian Faistauer, 13, chegou ao hospital naquele domingo com um corte profundo na cabeça, que atingiu o osso frontal.
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O adolescente estava em casa, no loteamento Santa Isabel, quando foi arrancado dos braços de um irmão mais velho pelo vento e arremessado de encontro aos escombros. Um mês depois, e após duas semanas hospitalizado, Faistauer não sente dor nas cicatrizes no rosto. Faz exames regularmente para evitar o surgimento de sequelas e cuida para não ficar exposto ao sol.
– Coça um pouco onde cortou, mas não dói mais. Agora está tudo bem, saí do hospital, já engordei três quilos com a comida da minha mãe e logo voltaremos para casa – acredita o jovem, que atualmente mora com a família na casa de uma irmã, no Centro, enquanto espera pela reconstrução da moradia.
Outro morador, que chegou a ser dado como morto após o temporal, não está tão bem quanto Willian. Pedro da Silva Diogo, 61, ficou soterrado duas horas sob escombros e recupera-se lentamente dos ferimentos. Morando na casa de uma das filhas, na Vila Jardim, o serrador sofre com as dores de uma luxação no braço direito e nas costelas.
– Faz um mês que estou vivo de novo – sintetiza.
Pedro parou de trabalhar porque perdeu parte dos movimentos do braço e estar em acompanhamento médico, segundo Loray da Silva, uma das pessoas que ajuda o serrador desde o dia da tragédia. Temendo que as sequelas se agravem, a família vem procurando a prefeitura em busca de atendimento rápido na rede pública. O secretário municipal da Saúde, Itamar de Leon, garante que Pedro está sendo acompanhado e que fará um novo exame na próxima semana.
– Também queremos que ele consiga montar uma casa para morar. Ele alugava a que foi destruída e precisou morar com a família. Mas ele sempre diz que gostaria de ter seu cantinho novamente. Pedimos doações de materiais para a prefeitura para construir, mas até agora recebemos poucos tijolos. Sabemos que muitos precisam, mas está demorando muito – lamenta Loray.
Prioridade é doação de material de construção
Desde o primeiro dia, doações para os desabrigados e atingidos com o temporal chegaram de diversos cantos do país. O ginásio de esportes da cidade ficou lotado de roupas, alimentos e produtos de limpeza, todos organizados por funcionários da prefeitura e voluntários. No início, a prioridade era água potável; agora, segundo a voluntária Andréia Bertuol, a necessidade é de materiais de construção para que as famílias consigam reerguer suas casas.Tudo o que foi doado em um mês, sejam alimentos ou produtos de higiene pessoal e limpeza, já foi repassados. Grupos fazem a triagem do que chega e encaminham para quem se cadastrou para receber ajuda. Cestas básicas, por exemplo, são entregues de 15 em 15 dias, segundo Andréia. Como a quantidade de alimentos doados foi muito grande, a coordenação estuda a possibilidade de enviar comida para famílias que não foram atingidas com o temporal, mas que são pobres.
– A hora do apuro já passou, agora estamos conseguindo organizar as doações e ajudar muita gente. A rede de solidariedade que se formou foi incrível. O plano é que essa estrutura no ginásio permaneça por pelo menos mais cinco meses – esclarece Andréia.
Além de material de construção, também é possível doar dinheiro para os necessitados de São Chico. Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico, Rafael Marques, até agora foram doados R$ 200 mil nas contas disponibilizadas, mas tudo já foi utilizado.
– Precisaríamos do dobro desse valor pelo menos. Dinheiro nos ajuda porque conseguimos negociar preços mais baratos. Também conseguimos comprar materiais aqui na cidade, que são entregues diretamente para quem precisa – diz.