Campanhas eleitorais custam caro. Tesoureiros exigem dinheiro farto e, de preferência, em espécie. Para garantir fluxo de caixa contínuo aos partidos, a Odebrecht terceirizou à Cervejaria Itaipava a atividade-fim do seu Departamento de Operações Estruturadas, o setor de propinas e doações eleitorais da empresa.
A revelação faz parte da série de depoimentos de executivos da Odebrecht ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), cujos detalhes foram divulgados por Zero Hora em março. Os depoimentos foram prestados ao ministro Herman Benjamin no processo de cassação que o PSDB ajuizou no TSE contra a chapa Dilma-Temer. Na terça-feira, o TSE decidiu suspender o julgamento após conceder mais prazo para as defesas apresentarem suas alegações finais. Se condenados, Temer pode perder o mandato e Dilma ficar inelegível por oito anos.
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Atendendo na ponta a uma vasta rede de bares e distribuidores do país, a Itaipava tinha acesso a muito dinheiro vivo, fundamental a quem precisava fazer transações sem despertar a atenção do sistema bancário.
Em um esquema batizado de "barriga de aluguel", as duas empresas passaram a agir em conluio para fazer repasses a políticos. Marcelo Odebrecht e Benedicto Junior, ex-presidentes do grupo, detalharam a operação: a Itaipava fazia os desembolsos no Brasil e a Odebrecht ressarcia a cervejaria, com juros, por meio de depósitos em dólares no Exterior.
No total foram enviados R$ 117 milhões a uma conta em paraíso fiscal indicada pela Itaipava, confirmam outros dois delatores da Odebrecht, Luís Eduardo da Rocha Soares e Fernando Migliaccio.
– Qual era a combinação específica? Você (Itaipava) faz a doação em meu nome (Odebrecht). A gente cria uma conta corrente e eu te remunero por CDI como se você fosse um banco que está me emprestando dinheiro – resumiu Benedicto.
Usando a cervejaria como laranja, a Odebrecht despejou R$ 40 milhões por meio de doações legais na campanha eleitoral de 2014 a pelo menos seis partidos. Somente a chapa Dilma-Temer recebeu R$ 17,5 milhões.
– Eu tinha um problema, não consegui operar os créditos que tinha prometido. Não conseguia doar aquilo que tinha acertado. Aí, usamos a Itaipava – admitiu Marcelo.