Como toda multinacional que se preze, a Odebrecht estipulava metas e pagava bônus por desempenho aos seus diretores. Não raro, o êxito nas operações de caixa 2 engordava muitos contracheques.
Fernando Migliaccio, um dos principais mentores do esquema de doações ilegais da empresa, revelou ao TSE que os executivos receberam entre US$ 5 milhões e US$ 8 milhões após as eleições de 2014, fruto dos resultados obtidos na campanha. Por vezes, esses recursos eram transferidos direto para o Exterior, fora da contabilidade oficial da empreiteira.
A revelação faz parte da série de depoimentos de executivos da Odebrecht ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), cujos detalhes foram divulgados por Zero Hora em março. Os depoimentos foram prestados ao ministro Herman Benjamin no processo de cassação que o PSDB ajuizou no TSE contra a chapa Dilma-Temer. Na terça-feira, o TSE decidiu suspender o julgamento após conceder mais prazo para as defesas apresentarem suas alegações finais. Se condenados, Temer pode perder o mandato e Dilma ficar inelegível por oito anos.
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Preso na Suíça enquanto tentava esvaziar contas bancárias, Migliaccio foi o primeiro executivo da Odebrecht a assinar acordo de delação premiada. Por estimativas próprias, ele calcula que, entre contas no Brasil e no Exterior, a empreiteira movimentou de US$ 650 milhões a US$ 700 milhões em 2014, incluindo doações a políticos do Brasil e de Panamá, El Salvador, República Dominicana e Venezuela. Só no Brasil, foram R$ 200 milhões. Migliaccio narra com surpreendente tranquilidade a transferência de R$ 30 milhões em uma única operação:
– A gente tinha de mandar R$ 30 milhões? Então era mandar US$ 10 milhões para um doleiro. Só que, às vezes, ele não aguentava, então distribuíam em dois ou três. Eu tinha de falar pra Lúcia (secretária do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht): "Os primeiros cinco você passa para o doleiro A, os cinco você passa para o doleiro B e o restante você passa para o doleiro C. E ela fazia contato com essas pessoas para avisar: doleiro
Ao concluir o relato, Migliaccio gabou-se:
– O meu recorde é R$ 35 milhões em um dia.